segunda-feira, 7 de setembro de 2009

5
.
Dos objetos. “O bebê que toma o peito, você tira o peito, ele chora, está infeliz. Você lhe devolve o peito, ele se acalma. Há anos uns e outros buscaram nosso peito. Queríamos um ‘bom objeto’, como dizem os psicanalistas, que pudéssemos possuir, que nos saciasse, que fizesse que nada nos faltasse... Que azar: somos desmamados, essa história acabou, ponto final.” São palavras tristes, mas verdadeiras, de André Comte-Sponville. Porque você acha que os homens gostam tanto dos peitos das mulheres? Eles procuram, nelas, aquilo que já não podem ter em suas mães. Quando, em 1910, Freud escreve sobre o Complexo de Édipo, descreve-o como um desejo inconsciente que a criança tem de “matar o pai”. Este, ao menino de três a cinco anos, é rival em relação ao peito materno. A fase seguinte - que vem depois desta, fálica - vai marcar para toda a vida o/a destino/meta psicológico/a de todo indivíduo macho, “devidamente são”: desapegar-se da mãe; reconciliar-se com o pai; encontrar, para amar, uma que não seja idêntica à mãe. “Essas tarefas”, Freud escreve, “cabem a todos, e é notável a pouca freqüência com que lidamos com elas de maneira ideal”.
Outro dia um amigo me disse, jocoso, olhando uma mãe novinha que por nós passava: “Se eu tenho uma mãe dessas, até hoje estaria mamando”. Mas, a depender do gosto estético, outra pessoa poderia dizer a mesma coisa, referindo-se à mãe daquele meu amigo. Não é a beleza que buscamos, afinal – ela é somente o atrativo, a propaganda –, mas a vida. Acima do desejo erótico está o desejo de segurança, da saciabilidade daquela fome mais primitiva. No fim de tudo, reverbera silenciosa a voz do nosso instinto mais básico, comum a todos os bichos: autopreservação. Aquilo que ocorre ao bebê, ocorre também conosco: não ter um peito deixa-nos infeliz... é a tristeza. Quando o peito não nos falta, a vida está assegurada... somente o tédio, agora, nos assedia. Daí Schopenhauer, valendo-se de Lucrécio, dizer que “giramos sempre no mesmo círculo sem nunca poder sair... Enquanto o objeto de nossos desejos permanece distante, ele nos parece superior a todo o resto; se ele é nosso, passamos a desejar outra coisa, e a mesma sede da vida nos mantém em permanente tensão...” Noutra parte, Schopenhauer também dirá que “a vida oscila [...] como um pêndulo, da direita para a esquerda, do sofrimento ao tédio”. E, nessa historia toda, parece que a gente não tem muita escolha. A razão, por esse viés, nunca é suficiente, libertadora. Acima de tudo, da própria razão, da própria autopreservação, ela: a Vontade.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

patativa moog, amor, filosofia, felicidade, paixão, desejo