sexta-feira, 31 de julho de 2009

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Do amor fati e do amour de soi. Vencer-se a si mesmo – dizia Zaratustra –, eis o maior dos desafios. Pois não há nada mais terrível, mais violento e mais difícil do que tornar-se o que se é. Mas eu anuncio o novo homem.
Anuncio o homem que chama a ilusão pelo seu nome, o mais cruel de todos: Felicidade. Felicidade fundamentada numa perfeição desconhecida, numa moral milenar que amordaça e maquia a selvageria do amor possível; o único que há, e que os animais sem razão sabem, por nada saberem.
Anuncio o amor possível, o amor fati; o amor que tem aquele que não deseja ter além daquilo que se tem: a si-memo, o seu destino. Para amar com tamanha grandeza, porém, é preciso ter mais do que a razão que compreende o fado e o aceita, e o ama; é preciso ter mais do que a ignorância completa: é preciso o amour de soi, por amor à terra, pela fidelidade à terra e ao que não se esconde por sobre as nuvens.
Somente quem compreende e aceita o longo caminho a ser trilhado nessa ascese pode, de fato, iniciar essa que é sua maior jornada: de dentro de si até o pico mais alto da montanha, onde os ventos fazem morada, e onde se pode ter olhos como os da águia que, sobre tudo, a tudo vêem. Mas é necessário, antes, vencer-se a si mesmo, o que requer, mais do que vontade e sabedoria, bravura homérica e aceitação.
É preciso não temer o despir-se da própria pele com a cortante adaga de Orestes. É preciso não querer mais do que o que se tem, mesmo que o que se tenha seja somente o quase nada; do passado, no presente, no futuro. É preciso ter fidelidade à terra. Somente aquele que deseja o não-desejo, pode ter o que deseja, e ainda assim ser inteiro.
O novo homem há de compreender que, vencendo-se a si mesmo, terá por glória, e das mais altas, a indiferença, a desesperança: Indiferença para com o amor ideal e suas dores, suas prisões; desesperança por não esperar a perfeição do mundo ou de qualquer coisa que esteja no mundo, que é o que há. Tendo os olhos do dia, o homem dos olhos do dia não conhece qualquer noite. O novo homem, a tudo amando com amor fati, pode facilmente, com o amour de soi, nada amar com a paixão, nada temer com a paixão, nada querer com a paixão, com a desmesura.

quinta-feira, 30 de julho de 2009

28
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Do “morrer de amor”. Quando Eco viu Narciso, moço lindo, enlouqueceu de paixão, e o amou. Pois vocês não sabem? A paixão sempre enlouquece; é o estado natural e mais espontâneo da Vontade, que o pensamento moral cristão do Ocidente, principalmente, sublimou, maquiando-a como um amor que relegava Eros a um plano inferior. Ágape era o amor maior, mais elevado e único pelo qual se deveria viver, se deveria morrer. Mas acontece que Eros está em tudo e, principalmente, no amor-de-si-mesmo (stergein). Sim: amor insanus est. Ágape, ideal, metafísico; Eros, real, biológico-químico. Assim, onde quer que Narciso fosse, Eco o seguia – mesmo que fosse para ganhar apenas um pálido raio do seu olhar –, arriscando-se. Narciso, porém, amava apenas a si mesmo, e à sua própria imagem refletida nas águas cristalinas de uma fonte. Não vendo o seu amor correspondido – pois que os amores nunca são correspondidos –, Eco retirou-se para uma caverna, triste, humilhada. Lá, começou a definhar, e tanto que, dela, restou apenas uma voz triste e distante, perdida pelos espaços ermos. E é por isso que Eco, hoje, é lembrada somente como repetição do mesmo, não sendo o próprio, porém. E bem assim no amor, na dor ou nos sons que saem dos pedais de efeito que alguns músicos contemporâneos utilizam.

terça-feira, 28 de julho de 2009

27
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Dos absurdos. Foi enquanto conversava com Laila que Arnaldo, em um momento de ebulição hormonal, disse, cheio de entusiasmo: “Laila, agora eu não tenho mais medo de dizer que te amo”, e disse, como quem se liberta de um peso enorme: “eu te amo!” Ela, que não esperava aquilo, nem naquela hora, gelou. Como ele poderia dizer “isso”? Quando começou a sair com ele, pensou, não esperava nada disso; não esperava nada. Ficaria com Arnaldo por algum tempo, depois diria adeus, quando fosse a hora de dizer adeus. Ele, no entanto, apaixonado que estava, não desconfiava que ela iniciara tal relação com um fim já premeditado. “Olha, Arnaldo”, Laila disse, segura, “uma vez você me disse que queria que eu sempre te falasse a verdade; que preferiria mil vezes uma amarga verdade do que uma doce mentira, não foi?”. E ele teve que concordar. “Então?”, ela continuou, “eu sei que você gosta mais de mim do que eu de você; e eu me sinto como se estivesse te sacaneando nisso tudo, entende? Quer dizer: eu não te amo, apenas... gosto de você. E não acho que seja justo te esconder isso. Logo logo vai chegar o dia em que eu terei que dizer adeus, que tudo acabou. Por isso, você tem que saber se quer continuar com isso, e se ainda vale a pena”. Dentro dele, como em uma cena escatológica, o mundo pareceu ruir à força daquelas palavras medonhas. Era um misto de frustração, de raiva, de desencantamento... Tudo ficou cinza; tudo girou à sua volta. Ele sentia aquele estranho frio na barriga, como se borboletas voassem dentro dela. Sentia-se como o menino solitário no canto da janela, no desenho triste de Edward Gorey. O que ele poderia dizer naquela hora? Sentiu-se desarmado, e ela com todas as armas. Ao assumir o sentimento que lhe parecia tão natural, porque era fácil amá-la, jamais pensara ouvir o que ouvira. Em troca da declaração amorosa, palavras que cortavam qual navalha. Como as coisas podiam ter tomado esse rumo? Quedou-se, perplexo, resignado, porém. Não, ele não diria nada; não naquela hora. Tinha que pensar, e pensar muito, para não falar bobagem ou qualquer coisa de que viesse a, depois, talvez tarde demais, arrepender-se. Nunca fora tão emotivo; nunca tão racional; e nunca sofrera tanto.
Moral da história: o que mais você ama é o que mais lhe traz a dor, e não há exceção para tal regra.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

26
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Da sorte e do destino. Zé Gomes é uma cidadezinha bucólica, distrito de Exú, no interior de Pernambuco; lá eu nasci. Como é comum em tantas cidades pequeninas, os rapazes sonham com a vida que vêem na TV, e as moças sonham com os rapazes que vivem nas cidades grandes. E é assim que, com as exceções comuns, quando esses rapazes retornam a Zé Gomes, vindos de São Paulo ou do Rio, as garotas vêem-nos quais “príncipes dos cavalos brancos”, e sonham que os tais, à proporção das suas belezas, ao voltarem para as cidades grandes, levem-nas consigo, como nas histórias da Carochinha. É uma maneira de fuga do fim do mundo; e o casamento ainda é, às meninas, o passe seguro pra algum futuro, e o escape certo do fracasso maternal conforme os bons costumes ensinados pela santa madre Igreja. Porque "não basta ter um filho", pensam, "é preciso que o filho tenha um pai; e se for um que valha a pena, ainda melhor". Marta era uma dessas meninas, e pensava bem assim. De namoro com Miguel, que viera visitar a família, combinou de, com ele, fugir para São Paulo – a despeito dos conselhos dos seus pobres e velhos pais. Fugiu. Mas, achando-se em São Paulo, enamorou-se de Aberto, que era dono de um pequenino restaurante self-service chamado: Tempero da Mamãe. No auge da decepção e da vergonha de haver sido corneado, Miguel procurou esquecer tudo nos braços da fogosa Aparecida, com quem teve dois filhos. Pouco depois ele seria promovido a gerente comercial na matriz da loja em que trabalhava há mais de dez anos, passando a receber duas vezes mais e tendo grande estabilidade. A sorte, enfim, pareceu-lhe sorrir. Marta, por esse mesmo tempo, viu-se obrigada a voltar para Zé Gomes, acompanhando o seu novo homem que, fugindo de ameaças de morte, por causa de algumas dívidas que contraíra no seu malfadado empreendimento, concluiu que Zé Gomes era o lugar perfeito para se esconder de todos os que lhe ameaçavam a vida; afinal, conforme os vários testemunhos de Marta, ali era “um lugar esquecido por Deus”, o “fim do mundo”, o “lugar onde o Judas perdeu as botas”, “onde o vento faz a curva”. “Em Zé Gomes”, pensava ele, “certamente não me encontrarão nunca; estarei a salvo”. E a vida segue.

terça-feira, 21 de julho de 2009

25
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Da dialética sentimental. Francisco, coitado, era louco por Clarisse. Já nem sonhava com a moça; delirava. Tudo o que via, o que fazia, evocava, de um modo misterioso, a face doce e angelical de Clarisse; e, sem notar, dizia o seu nome enquanto dirigia, enquanto ouvia uma música qualquer ou lia algum livro. Clarisse estava em tudo, misteriosamente presente. Mas ela o ignorava. Uma vez chegou a dizer ao irmão, fazendo-se de tonta e dando a entender que desconhecia que Francisco gostasse assim tanto dela: “Acho que o Chico gosta de mim! Quero nada com ele não”. Acontece que César, irmão de Clarisse e amigo de Francisco, contou-lhe tudo, tal como dito pela irmã. O “quero nada com ele não”, na boca de César, parecia vir diretamente da boca de Clarisse. E Francisco, ao mesmo tempo em que sentia uma estranha raiva de Clarisse, desejava esmurrar o irmão da moça de palavras tão medonhas. “Ah! Infeliz!”, pensou, “porque tinhas de castrar as minhas esperanças com uma faca assim tão cega?” Tempos depois, desiludido, Francisco começaria a sair com Lúcia – por quem sentia mais atração do que amor, como ele mesmo nos dizia. Clarisse, por sua vez, sem receber as atenções de Francisco e vendo-se ignorada por Assis, de quem dizia gostar, começou a sentir ciúmes de Francisco, e mais ainda ao vê-lo assim, rindo de braços dados com Lúcia. Ele, que nunca havia lhe esquecido, percebeu o quase disfarçado ciúme. E foi o suficiente para que ele, dias depois, começasse a observá-la como antigamente. O problema maior, agora, era Lúcia. Como poderia chegar e, sem um motivo qualquer, dizer que não a queria mais? Como Sören Kierkegaard ensina no seu Diário de um sedutor, é mais fácil começar uma relação amorosa do que dela desvencilhar-se, havendo começado. E nada garantia que Clarisse viesse a ficar com ele; mas, até mesmo pelo sentimento de conquista que habita em todos os homens, ele precisava tentar, nem que fosse para dizer a si mesmo: consegui, ou: fiz o que pude. Mas, em relação à Lúcia, mais que um problema sentimental, Francisco via, aí, um problema moral, um problema ético. Enquanto seu coração dizia: “abandone tudo, agarre o amor da sua vida”, sua consciência redargüia: “e Lúcia? Como é que ela vai ficar nisso tudo? E as pessoas, o que dirão?” Mas, nessas coisas do amor romântico, os apelos e as perguntas da consciência nem sempre são tão fortes quanto os incisivos chamados da Vontade, da paixão licenciosa. Logo ele encontraria um motivo para dizer adeus à Lúcia e, mais uma vez, correr atrás de Clarisse. E agora, como que por uma requintada ironia, Assis começou a ligar para Clarisse, sugerindo um encontro em algum lugar. Tanto ela quanto Francisco, porém, sabem que ele só quer, com ela, sexo; sexo sem compromisso, sem nada mais que... sexo. Mas, à noite, antes de dormir, quando ela fica sozinha em seu quarto, pensa: “quem garante que ele não vai gostar de mim?”, sim: quem garante? Francisco, debaixo das cobertas, nem dorme: sabe que as mulheres são bobas e, como sempre, têm queda por tipos assim, cafajestes. E para tais personagens, por fim, nada é tão certo quanto a incerteza.
Moral da história: o amor, meus caros, parece sempre adiante de nós e, tão logo pensamos tê-lo alcançado, ele se mostra ainda mais adiante – como quem escondido no final de um horizonte.

domingo, 19 de julho de 2009

24
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Da dor de tudo – O novo homem pode, a tudo amando com o amor fati, sem o amour de soi, nada amar, nada temer, nada querer com paixão e desmesura; é o único amor que vale a pena ser amado – dizia Zaratustra, contemplando o horizonte distante, como fazem os velhos.
– O que tu sabes sobre o amor? – perguntavam os homens, desdenhando do velho eremita solitário.
– Sei que ele, além do desejo de preservação, hora é Dionísio, hora é Apolo. Máscaras, porém. Seu fundamental ardil consiste em confundir o que ama, fazendo-o crer-se feliz; não notando que é doente e, assim, fraco. O amor, servil e romântico, faz o trabalho que à vida compete, mascarando a Vontade que impera sobre tudo o que vive e, eo ipso, quer viver: gera filhos.
Os homens olhavam Zaratustra com arrogante desprezo. Como poderia dizer tantas loucuras? Eles não ousavam contrapor o velho, mas pensavam sobre a vida das grandes árvores, dos musgos, dos vermes minúsculos. E a espontaneidade de tudo isso, em que lugar ficava em tal “teoria”?
Como se soubesse o que pensavam, Zaratustra lhes disse:
– A diferença entre o homem e a fera é que o homem pode pensar-se fera, e aassim ser mais do que a fera. Nisso está o seu céu, e o seu inferno. E no alto de tudo e no ato de tudo, a Vontade, que é mascarada como nome de amor, amor romântico. Amor que é, presente, desejo do futuro; como a semente que, não mais que semente, quer-se árvore. O disfarce não se mantém, porém; porque a realidade reclama a sua presa. Daí que tal amor, realizado, é também a sua morte; igual o Desejo, a Vontade, a semente que germinou. O amor, como o homem, é uma corda estendida entre dois abismos: nascimento e morte; no meio, o sofrimento da vida, e a luta por ela. A natureza selvagem, idílica para alguns, não mascara a dor, o sofrimento. O pássaro não canta porque é feliz, sequer pensa-se feliz, sabe o que isso seja. O pássaro geme, grita de dor, porque a sente, sem questioná-la. Nada mais autêntico do que o pássaro, e os bichos que não têm razão; porque eles não maquiam a dor, não enfrentam o trágico com a arte, como fizeram os gregos, e como vós, hoje, fazeis. Eis aí – disse Zaratustra, abrindo os braços como a abraçar os campos – um céu inteiro a ser voado. Não seremos nós mais que os pássaros?
Não havia mais quem o respondesse, todos haviam ido embora.

sexta-feira, 17 de julho de 2009

23
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Das dúvidas. Angélica, dois ou três meses depois que Alberto largou sua mulher, praticamente colou nele, tão insistente foi em querer tê-lo por perto. Mandava e-mails, recados pelo celular, e ligava tarde da noite e ia ao seu trabalho com as desculpas mais ingênuas que se possa imaginar, sem fazer qualquer força para disfarçar as suas investidas. Alberto, porém, cheio de medos de enfrentar uma nova relação depois dos traumas da anterior, não conseguia decidir se preferia Angélica ou a solidão e uns casos assim, sem compromissos sérios – pelo menos até ter alguma certeza do que realmente queria. De tanta insistência da Angélica, Alberto, finalmente, começou a pensar nela com algum carinho, olhando-a como ela, a ele, parecia olhar. Mas, lástima do acaso!, quando Alberto finalmente decidiu que ia pedir Angélica em namoro, ela decidiu que agora era ela que tinha lá as suas dúvidas sobre a tal relação. “Eu preciso de um tempo só pra mim”, disse; e deixou de ligar, de mandar e-mails, sumiu. Alberto, sem entender o motivo de tão repentina mudança, decidiu “fechar para balanço”, como há tempos vinha querendo fazer. O que teria ocorrido pra que a louca mudasse assim, do vinho à água? Isso Alberto nunca saberia. “Meu Deus!”, disse-me, narrando a história aqui recontada sem floreios e iluminuras, “quantas frescuras, não? Rapaz! deveria existir uma lei contra isso”. Moral da história: na dúvida, não ultrapasse.

terça-feira, 14 de julho de 2009

22
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Dos antídotos do tempo. Dos amores de Aristeu, Aninha foi o que mais lhe trouxe dores, aflições e uma somatória enorme de noites mal dormidas. Nada dói tanto quanto um amor não correspondido. Aninha, aos olhos apaixonados de Aristeu, era a moça mais linda e perfeita deste mundo, e dos outros também. Fora agraciada pela natureza com longos, louros, belíssimos e ondulados cabelos, e um rosto angelical que deveria botar Penélope, Helena ou qualquer outra dessas das histórias clássicas no chinelo. O sorriso de Aninha era, a um só e mesmo tempo, plácido como o de um anjo, sensual, doce e quente como o de uma meretriz. “O sorriso dela, Patativa”, ele me dizia, embasbacado, “me desmonta todo”. Mas, como em tantos e tantos casos, a figura de Aristeu não causava à sua amada o mesmo impacto que a dela, nele. E assim foi que, tempos depois, depois da desilusão de haver perdido o amor da sua vida, Aristeu fez de tudo para encontrar em Carmem tudo aquilo que não havia conseguido em Aninha. Linda e esperta, Carmem soube administrar os conturbados sentimentos de Aristeu, deixando-o cada vez mais e mais apaixonado e dependente dela, da sua atenção, dos seus beijos, dos seus carinhos, do seu sexo, et cetera. Mas Carmem, por forças da situação, teve que se mudar, com os pais, para Campinas; e Aninha, dias depois, casou-se com Mauro, um “sujeito gordo e mal educado”, conforme os juízos do amargo Aristeu. Assim, distante de Carmem e do poder da sua prodigiosa sedução, Aristeu voltou a pensar e sofrer por Aninha, que passou a vê-la esporadicamente, aos acasos da sorte. Mas a sua moral dizia, torturando-lhe: “Fique na sua, seu monstro! Ela agora é uma mulher casada”. Uma paixão mal resolvida é, conforme a vasta literatura romântica, uma cicatriz permanentemente aberta, seja no corpo ou na alma. Aristeu só conseguiu se curar de tal doença quando, tempos depois, por causa do seu ofício, viu-se obrigado a mudar para Recife, onde casou e teve filhos. Sete anos depois, de volta a João Pessoa, desejou rever Aninha, sua antiga paixão. “Somente para saber como ela anda, e pelos velhos tempos”, pensava. Qual não foi a sua surpresa ao ver que a “sua” Aninha, outrora tão linda e... perfeita, estava assim, irreconhecível: gorda, feia, velha, um bucho. A vida, sem dúvida, lhe havia maltratado, e maltratado muito. No pequenino diálogo que tiveram, como têm os bons amigos que se reencontram depois de muito tempo, Aninha lhe disse, por três vezes, desafiando o seu humor: “Nossa, Aristeu! Você não mudou nadinha, menino!” Ele, sem poder dizer o mesmo, somente pensava, agradecido: “Meu Deus! Do que foi que me livraste!” No amor, já dizia o Edu Lobo, “quem perde, quase sempre ganha”.
O tempo tem o curioso poder de cicatrizar feridas, de desfazer as tolas ilusões de amor eterno. No final, como que em velhas casas abandonadas, ficam apenas os fantasmas, as poucas lembranças que são quais retalhos rotos que não podem ser costurados na arqueologia sentimental de quem viveu ali, ou conheceu alguém que ali viveu. O amor, ingênuo, sonha sempre com eternidades. A vida real, sem as máscaras, conhece apenas os momentos, o agora-mesmo, e os retalhos.

domingo, 12 de julho de 2009

21
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Das imagens. Ribeiro Couto é autor de um conto intitulado Diário de amor de um moço delicado, ambientado no subúrbio carioca. No referido conto, Cláudio Pereira apaixona-se por Olímpia, filha de Albina. Cego de amor, Cláudio é capaz de andar a cidade inteira para estar com a moça, que é pobre e mora no subúrbio. Tudo gira em torno de Olímpia, a mulher ideal por ele tanto procurada e de quem, sonhando, dizia: “Encontrei a felicidade”. O tempo parecia não passar entre a despedida do último encontro e a perspectiva do próximo. Sem Olímpia, nada tinha graça, nada tinha cor. Mas, como na contraparte natural do ensinamento no Evangelho: depois da bonança vem a tempestade. É quando se desfaz a ilusão de qualquer “amor ideal”, e com ele a ilusão de uma felicidade encontrada. Viriato Vieira, amigo de Cláudio, aconselha-o que vá às mulheres, aos cabarés, que é o lugar onde se pode iludir os sentidos, adormecer a memória, “entorpecer a imensa dor” – remédios que Cláudio julgará inúteis. Ah! Vocês não sabem? O amor vive da memória do objeto amado. Ama-se a imagem do outro que mora em nós. Unimo-nos a ele por meio da imagem, da lembrança, do desejo do real – que é quando a imagem do objeto amado, desejado, confunde-se (co-funde-se) a um corpo, físico. Não por acaso santo Tomás de Aquino, definindo o real, ou a verdade lógica, dizia que ele/ela não está nem nas coisas e nem no intelecto, mas nessa adequação entre a “coisa” e o intelecto: “veritas est adaequatio speculativa mentis et rei”. Modernizada a questão, Heidegger nega que tal verdade seja primariamente a adequação do intelecto com a coisa; faz isso para sustentar que, de acordo com o primitivo significado grego, a verdade é a descoberta, o desvelamento (alétheia). Tema complexo, exige mais do que um interregno numa leitura analítica de um conto antigo. Seja como for, e para o nosso fim, consintamos que, mais que o físico, ama-se a imagem. Assim, quando esta imagem erótica (motivadora do desejo) se vai, a sua representação física – que seria a sua realização metamórfica – não resiste. É relação sem desejo, sem paixão. Pois foi isso que aconteceu com o amor ideal de Cláudio por Olímpia. Mormente, diga-se, a bem da verdade, ajudado por Albina, “uma enorme senhora gorda”, mãe da moça – que é, na história, qual malévola bruxa. Ribeiro Couto mantém o ideário popular da sogra maldita. Cláudio, conhecendo tal megera e mantendo viva a imagem dolorida de, quem sabe, uma traição de Olímpia – ela usava um colar e uma pulseira que não foram dados por ele e, pobre que era, não poderia comprá-los –, só pensa em fugir, sozinho, para Minas, para Goiás. É que as imagens podem facilmente ser diluídas por aquilo que delas se fazem ou se dizem, e com aquilo ao que, a elas, associamos. E isso vale principalmente em relação aos outros, sobre quem pouco podemos intervir; afinal, “a imagem não é uma coisa: é um ato da consciência”; vive-se por ela e, por ela, vivemos.

sábado, 11 de julho de 2009

20
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Do amor ideal. Maria Eloísa, depois de um ano de casada, largou do João Carlos. Seis meses depois, quando voltei a São Paulo, ela me apresentou o seu terceiro namorado pós-divórcio. “Estou a procura de alguém que seja ideal para mim”, disse-me, confidencialmente, como quem se justificando. “Ora, Eloísa”, eu lhe disse, na maior serenidade estóica, “se você encontrar alguém que seja ideal pra você, então esse alguém não poderá ser seu; porque, se não, vira alguém real. E você deve saber que alguém real nunca é o que a gente quer que ele, ou ela, realmente seja”. Eloísa ficou toda confusa. “Bem feito!”, pensei, “para que aprenda a respeitar os ‘amores’ possíveis”. Eloísa, anteontem, me enviou um convite para o seu novo casamento – e o nome do homem que vem, nele, impresso, já não é o daquele a quem fui apresentado. No envelope branco a mim endereçado, enfeitado de maritacas, o ditado escrito com a letra dela: “Mais vale um pássaro na mão do que dois na contra-mão”. Melhor definição de “amor possível”, impossível. A vida quer viver, e a Vontade impera sobre tudo.

quinta-feira, 9 de julho de 2009

19
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Do querer e do não-querer (ou Da autenticidade e da inautenticidade). Daniel, num desses sites de relacionamentos, conheceu Carla. Depois de muitas e agradáveis conversas – como ele mesmo disse –, decidiram se encontrar. Moça inteligente, cabeça feita, futuro promissor, conquistou fácil o coração de Daniel, com quem passou a dividir sua cama e sua vida, por algumas noites. Acontece que os amigos de Daniel, gozadores que eram, e socráticos – pelo menos na parte da ironia –, quando perguntavam por ela, nem ao menos mencionavam o seu nome – que é a nossa identidade social mais próxima –, mas referiam-se à moça como “a gorda”; embora ela não fosse exatamente isso que eles diziam. “E aí, Dani”, perguntavam, aos rizinhos miúdos, “não vais te encontrar com a gorda hoje?” Dada a repetição da mesma fala, dos mesmos risos, Daniel, que até então resistira a crer que Carla fosse gorda e que isso e que aquilo, começou a observá-la com os olhos dos amigos; e isso pesa muito na contabilidade existencial de cada um. Tanto que, não por acaso, Sartre, falando da inautenticidade, diz que o eu inautêntico é aquele que me faço fundamentado no olhar do outro sobre mim, e que é por meio desse outro que me vejo. Ou, definindo o status da liberdade que apregoava: “Para saber uma verdade qualquer a meu respeito, é preciso que eu passe pelo outro”, e daí, provavelmente, a sua máxima mais conhecida: “Não importa o que fizeram de mim, o que importa é o que eu faço com o que fizeram de mim.” Certo é que, para Daniel, nos dias que se seguiram, aquela admiração de outrora, que era sua, não sendo também dos outros – pelo menos dos seus amigos mais próximos –, começou a emudecer, começou a desbotar; Carla já não lhe dava tesão. E embora Daniel nada soubesse sobre Sartre, sabia muito bem que, “sem tesão, não há solução”, como dissera Roberto Freire, introduzindo o tal conceito na cultura brasileira, no livro homônimo. Já não bastava achá-la admirável; não bastava gostar do seu papo-cabeça; era preciso, mais que isso tudo, o Desejo – porque o que restara era tão somente o desejo do desejo dos outros... mas isso não bastava, não à sua situação amorosa. Carla teria que encontrar um outro Daniel, ou um outro outro.
Moral da história: o meu querer é o querer do outro. Fugir disso é a liberdade, mas, quem é, realmente, livre? Nada mais autêntico, nada mais inautêntico. E, sim, claro que Heidegger tem razão.

quarta-feira, 8 de julho de 2009

18
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Da caridade. Amanhecia, e Zaratustra sentia o frio gelar seu rosto, penetrando até os ossos. Mas isso era pouco para dobrá-lo. Ali mesmo na praça, onde estava, procurou um lugar para descansar e ver surgir o Sol que, pela cor da aurora, não tardava em chegar. Um homem que ele nunca antes vira, numa gentileza espontânea, trouxe-lhe uma manta inteiramente feita com a pele de um urso.
– Isto te poderá ser útil nas noites seguintes – disse o homem, entregando-a a Zaratustra.
– O que fazeis? – Disse o eremita, sem alterar em nada a sua voz. – Não sabeis que os bichos têm a pele de que precisam? A natureza, prodigiosa, dota-os de tudo o que eles, na travessia da ponte, necessitam – disse, fitando os olhos do seu benfeitor. – Sim; viver é atravessar uma ponte: do nada ao esquecimento. Memória é uma promessa da Vontade, desejo vão de eternidade, e de uma felicidade que seja eterna.
Nessa mesma hora aproximaram-se dele sua águia e sua serpente. O homem, sem palavras, observava a cena, sem nada entender, nada dizer. Os primeiros raios de sol começavam a despontar por sobre a linha ondulada do horizonte longínquo.
– Tudo o que eu digo e faço – disse Zaratustra –, é cedo demais. O tempo é grávido de auroras, e a noite mais fria ainda não veio. Já o dia, porém, furioso, planeja o seu prematuro fim.
– Que quereis dizer com tudo isso? – redargüiu o homem.
– Que a caridade do caridoso é exercida sempre em função de si mesmo. Todos os homens são ventres, e o mundo todo, massamorda. Se pudessem, os homens devorariam todo o mundo e, por fim, devorariam a si mesmos. Beberiam todos os oceanos, comeriam todas as constelações.
– Eu deveria tomar isso como ofensa? A ti, somente o bem foi o que desejei, oferecendo-te a manta que, no frio, poder-te-ia aquecer e, na necessidade, à sombra de qualquer árvore, servir-te-ia também de leito.
– Ora – disse Zaratustra –, não vês? O bem que desejas a mim é o bem que a ti, somente, desejas. Não é este o mandamento cristão, e o provérbio mais antigo entre os mestres do Ocidente? É uma moral que não posso compartilhar, eu, o amoral dos dias que estão por vir. Hoje, porém, o que nos insta a um bem menor senão o ter em vista um bem maior? O Outro é o meio, objeto para o nosso próprio bem.
E, virando-se para o nascente, disse ao Sol, como quem a desfiá-lo:
– Que seria de ti, ó Sol, se não fossem aqueles sobre os quais derramas a tua luz? Mas os que à tua luz se banham, nela se embriagam; e de maneira tal que nem percebem: mais do que eles mesmos em relação a ti, és tu quem deles necessitas. A tua luz, afinal, com vãs promessas de vida, cega-os para que não vejam a luz que, neles próprios, pode ser acesa, com a força de mil sois. A luz que tão generosamente derramas sobre eles, afinal, é derramada sobre ti mesmo.
Ao final dessas palavras o homem se retirou, largando a pele aos pés de Zaratustra, a quem julgava louco e ingrato. Aquela conversa toda, definitivamente, não era para ele.
– A caridade é sempre carente, como o amor do que ama - c
oncluiu Zaratustra, olhando o homem distanciar-se.
Tudo agora estava claro.

segunda-feira, 6 de julho de 2009

17
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Dos excessos. Joelza não perdia um capítulo daquela novela. Quando o galã, estrela principal da trama, depois de tantos transtornos e sofrimentos, finalmente conseguiu encontrar a sua “alma gêmea”, Joelza quase morre aos prantos, tão grande foi a sua emoção. Mas quando ele a beijou, recitando mil poesias e fazendo duas mil promessas de amor eterno, Joelza teve um estranho, muito estranho, acesso de ciúme misturado com frustração.
– Que bosta é isso, gente?! Tá tudo errado! Não era pra ser assim o final.
Ela dizia, praguejando a cena e apontando pra TV, igual torcedor fanático brigando com o juiz que rouba contra seu time. Eduardo, seu namorado, que era forçado a ver a novela com ela, do começo ao fim – senão depois não saiam, ou, se saíssem, ela ficava um porre, insuportável –, percebeu a cena de ciúme e, já no limite da chateação, estourou:
– Que é que há, hem, Jojó? Tá com ciúmes do cara, é?
– Mas é que ela não o merece. Olha como eles são contrastantes! Depois de tudo o que ela aprontou, e o modo como o desprezava... E agora, olha isso aí: toda derretida; ele merece coisa melhor...
– Tipo, quem, Joelza? Você?
– Ah, Dudu! Vai à merda, vai!
– Quer saber de uma coisa? Vá à merda você, minha amiga! Sua baranga tresloucada!
E saiu da sala, bufando. Como poderia suportar isso a vida toda?
Mais do que depressa ele se convenceu de que esteve, aquele tempo todo, enganando-se a si mesmo, enganando Joelza e enganando o bucho que era a mãe da moça, que, em relação a ele, sempre se portara como um iceberg, desde o início do namoro que já durava um ano e meio.
O final da novela foi este mesmo: a estrela principal se casando com a outra estrela – como são, geralmente, os finais das novelas –, e um monte de gente, numa cena cafona de festa de casamento, celebrando a feliz união do “príncipe com a princesa”, mantendo viva a tradição bobinha das histórias infantis em que os dois vivem assim, felizes para sempre. Mas a novela que é a vida da Joelza, depois que perdeu o Eduardo para a Juliana, uma ex-amiga do CEFET de Jaguaribe – com quem ele casou cinco meses depois –, continua a se desenvolver lenta e gradativamente, em seus longos, tediosos e solitários capítulos. Moral da história: o mundo real é uma bosta mesmo; mas, prefira-o.

domingo, 5 de julho de 2009

16
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Do modo de tratar o/a amado/a. Na crônica “Análises”, no livro Filandras, Adélia Prado conta a história de Diolinda, “por quem João Jeremias foi a vida inteira apaixonado”. Acontece que, realizada a paixão, Jeremias não sabia como tratar a mulher que, desde cedo, soube se impor sobre a situação conjugal, assumindo uma posição antes ignorada por ele. Sabedora do amor de Jeremias, e da sua frouxidão, Diolinda se aproveitava: tudo era chato, tudo era feio, tudo era ruim; tudo o que ele fazia, com a mais cândida e melhor das intenções era, para ela, nada. Uma vez, quando Jeremias, atendendo ao desejo da mulher – que disse preferir que ele a chamasse de Nair, Maria Nair –, chamou-a de Nairinha, assim mesmo, no diminutivo, tentando ser carinhoso, não deu certo: “Ficou enfurecida, pondo em ridículo a paixão dele, que se recolheu a nunca mais ousou...” Por fim, a Adélia, que bem conhece a alma feminina, dá uns conselhos aos Jeremias que existem por aí, aos montões: “Mulher, mansa ou brava, quer marido firme. Marido tem que proibir alguma coisa, nem que seja do tipo: ‘quero minha correia dependurada neste prego e ninguém me tire ela daqui’. Porque senão as mulheres ficam muito infelizes e começam a ter maus pensamentos de querer ficar viúvas, de sumir no mundo, de dar os filhos pra avó criar, essas coisas. Natureza de mulher é de obedecer, de admirar, de servir, natureza de formiga, de abelha operária e gata no borralho, senão, meu Deus, não sobra espaço pra ela virar Cinderela”. Palavras da Adélia.

sexta-feira, 3 de julho de 2009

15

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Dos perfumes. Era sábado, dia de ir à casa de Marília, como de costume. Daniel pôs a camiseta preta que havia comprado na C&A, dividindo o pagamento em três vezes no cartão. Depois de calçar os sapatos e se olhar no enorme espelho que sua mãe lhe dera, fazendo poses modelares para ver se estava bom, tomou outro banho de perfume e saiu incensando toda a casa. Também, pudera: Marília falava o tempo inteiro que amava aquele cheiro, e que ele fazia-lhe, ao fechar os olhos, imaginar-se deitada num campo repleto de flores silvestres, e que isso e que aquilo... e o abraçava com força, como se quisesse empurrá-lo para dentro de si, peito adentro, pensando alto em “Miosótis, Papoulas, Alfazemas...” Meia hora depois, trânsito bom, Daniel chegava com a sua moto Honda de 250 cilindradas na casa de Marília, no Castelo Branco. Mas ela, estranhamente, ainda não havia chegado. “Tudo bem, eu espero”, disse à mãe da moça, que não conseguia ficar tranqüila com a demora da filha. Horas depois, depois de uma dezena de telefonemas, a notícia: Marília fora atropelada por um motoboy que, na sua pressa ou no seu medo, negara-lhe o socorro. O corpo, agora identificado, aguardava a família no Hospital de Traumas, na BR. A mãe da morta desmaiou; o pai amaldiçoou todos os motoboys de João Pessoa, e do mundo; e Daniel, desde então, não suporta mais o cheiro daquele perfume que Marília tanto amava. Tal fragrância agora tem, para ele, o cheiro acre da morte, da tristeza inominável, da angústia indescritível... Não é estranho que os cheiros nos tragam tantas imagens, tantas recordações?

quarta-feira, 1 de julho de 2009

14
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Do sentir e do dizer o que sente. Então Laíza, no Orkut dele, enviou-lhe um scrap, onde dizia: "I will miss You!" E ele, que não andava muito bem da cabeça por aqueles dias, perguntou-lhe, pelo MSN:
- O que tu quer dizer com "I will miss You!"?
- Tu n sabe, Jeca?
Ela perguntou, espantando-se de que ele não soubesse traduzir a frase.
- Saber, eu sei, baby. O que quero mesmo saber é o que tá mais por trás do sentir, e do dizer o que se sente. Porque uma coisa é a fala, e outra é o sentido.
- Eu sentirei sua falta - ela disse, separando palavra por palavra –, e é isso mesmo, sem mistérios, sem análises metalingüísticas, sem sentidos outros... pq sinto falta de tudo o q amo, e amo muitas coisas, embora vc n seja uma... vc entendeu, seu louco!!
Ele, talvez emocionado, e disfarçando a pequenina emoção, disse, jocoso:
- Pois eu não sentirei falta nenhuma de mim mesmo.
Uma semana depois ele viajaria para Alagoas, e os dois não mais se falam desde então. E isso já tem três anos.
O amor, meus caros, minhas caras, é um modo de dizer a Vontade, encobrindo-a; mas a Vontade precisa do olhar – mesmo o do interior, que advém do exterior, aí gravado na memória –, que é o sentido mais aguçado do Desejo. Mais do que ter a faca e o queijo, como diz a Adélia em O coração disparado, de 1978, é preferível ter a fome: “Não quero faca nem queijo. Quero a fome”. É com essa fome que se come o mundo, e as coisas do mundo... embora não seja educado falar de pessoas como “coisas”.