terça-feira, 22 de setembro de 2009

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Da dialética dos desejos. Há quem pense que a sua felicidade está na satisfação dos seus desejos. Ledo engano! Acontece que, na maioria das vezes, aquilo que dizemos ser o nosso desejo é, na verdade, o desejo do Outro – isto é: queremos o que o Outro tem, o que o Outro quer; o Outro é, para nós, espelho; nos vemos com os olhos dele (Sartre). Quem trata sobre isso é Hegel, na famosa passagem sobre a “dialética do senhorio e da servidão”, na Phänomenologie des Geistes [Fenomenologia do Espírito], de 1807. No referido texto, Hegel diz que, grosso modo, os nossos desejos são adquiridos com base (ou imitados) nos desejos dos Outros. Quando queremos o que o Outro também quer, fazemos assim porque lhe seguimos em seu desejar - Desejo, que, ligado à Vontade (Schopenhauer), aparece em Hegel como Geistes, Espírito. Assim é “a experiência do que é o Espírito, essa substância absoluta que, na liberdade acabada e na independência da sua oposição, a saber, de diversas consciências-de-si que são para-si, é a unidade das mesmas. Eu que é Nós; e Nós que é Eu”. Isso parece contradizer o discurso do Mercado (e da Indústria Cultural) que fala das pessoas como “personalidades únicas”, “originais”: “Você é o que você usa!” Se assim fosse, então os objetos individuais de uma pessoa diriam o que ela é mesmo. Mas você sabe que isso não funciona bem assim. O que desejamos não é tão original, nem tão pessoal; as tendências da moda (músicas, roupas, livros, programas de TV, et cetera) dizem isso – ou o discurso “isolado” das pessoas que tentam driblar a sua ditadura. De acordo com Hegel, as pessoas, na verdade, a partir do que “são”, ou daquilo que vestem (ou dizem), querem mesmo é que os outros lhes aceitem, lhes admirem pelo fato de elas quererem o mesmo que todos querem. É assim também nos atores sociais, nas agremiações: partidos políticos, times de futebol, bandas de rock, et cetera. Não se deseja o objeto do Outro – ou que o Outro deseje o Seu objeto - pelo objeto mesmo, mas pelo que ele representa, propicia: a aceitação no grupo. No mais, é como Bosch, n’A filosofia e a felicidade, afirma: “[...] meu verdadeiro desejo é o desejo do amor de outrem”.

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