segunda-feira, 14 de setembro de 2009

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Do tempo e da eternidade. “Porque o tempo é uma invenção da morte: / não conhece a vida – a verdadeira – / em que basta um momento de poesia / para nos dar a eternidade inteira” – dito pelo Mário Quintana. O amor romântico - que confundimos (co-fundimos) aqui com paixão, com passio (o que se sente, se sofre) -, sendo temporal, sonha com eternidades, e propõe-se alcançá-la mediante o thauma (o espanto, a perplexidade) poético; mas essa metafísica, esse salto ontológico é dado apenas a priori, por meio de concessões do discurso filosófico mais elementar, da linguagem simbólica, das metáforas e das analogias. Santo Agostinho, nas Confissões, e para efeito de resumo nosso, explica que o tempo (tempus) é a sucessão do passado, do presente e do futuro. O passado, todavia, não é, uma vez que já não é; o futuro, também não é, uma vez que ainda não é. Assim, conclui, resta-nos o presente, o já agora mesmo. No entanto, caso o presente permanecesse presente estático e não dinâmico, não seria o tempo, mas uma falsa eternidade, como o rosto de uma moça numa velha foto, “de modo que o que nos autoriza a afirmar que o tempo existe é o fato de que ele tende a não mais existir”, conclui o Hiponense. Dinamicismo, devir; mesmo a foto envelhece, e o rosto da moça, amarela - embora sem as rugas. Mas, talvez, possamos ir pelo caminho contrário; pelo caminho que sugere que o presente permanece pré-sente e é, conseqüentemente, o mesmo que eternidade. “Ah!, mas o momento em que eu comecei a ler esse texto é, agora, passado”, alguém poderia dizer. Exatamente! Mas quando você começou a ler este texto o presente era presente e, agora mesmo, ainda o é. O presente é sempre presente, “de modo que a única coisa que nos autoriza a afirmar que o tempo é, é que ele não cessa de se manter”, diz Comte-Sponville. E diz ainda que é essa permanência do tempo que Spinosa chama de duração – que não é o mesmo que a “soma do passado mais o futuro, que só têm uma existência imaginária, mas a continuação indefinida de uma existência”, ou, em outras palavras, a perduração do presente. O passado permanece, no presente, enquanto memória; e o futuro, enquanto perspectiva – ambos, porém, inexistem sem que sejam e estejam, eles mesmos, no presente, pré-sente. Se você leu esse texto em três minutos, você teve a experiência de três minutos de presente, ou três minutos de eternidade – como na experiência poética do Quintana. Ora, que dizemos com “esperar a eternidade”? Já estamos nela. E é por isso que todo amor temporal é também, por esse viés, um amor eterno; “eterno enquanto dura” – tal no poema do Vinícius.

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patativa moog, amor, filosofia, felicidade, paixão, desejo