terça-feira, 15 de setembro de 2009

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Do tempo e da eternidade (2). Na teoria da relatividade, de Einstein, o espaço é curvo e, assim, a menor distância entre dois pontos não é, como todo mundo aprende em geometria espacial básica, uma reta. Nada é reto, por fim; nada é preto no branco, afinal. Da física, porém, fiquemos por aqui. Avançaremos, no entanto, a uma parte menos complicada, mantendo apenas a “idéia da relatividade”. Da relatividade...
Ao maratonista que ficou dois segundos atrás daquele que chegou primeiro à reta, por exemplo, dois segundos é muito tempo; para o menino que passou toda a manhã construindo uma pipa, brincar com ela por uma tarde inteira é pouco tempo. Acontece que, nos relacionamentos amorosos, o tempo também pode ser bem relativo. Apaixonado, o sujeito acha pouco todo o tempo que fica ao lado da mulher amada; foi-se a paixão, não suporta mais a presença dela – ou suporta, literalmente, como no caso de Walter em relação à Marjorie, em Point counter point, de Aldous Huxley (cf. 1, 35). As horas ao telefone, para os namorados, simplesmente não existem. Depois de casados, três minutos bastam: “Diz logo o que tu quer, criatura!”. Coisa complicada, o tempo. Santo Agostinho, a propósito, no Livro XI das Confissões, escreve: “Que é, pois, o tempo? Quem poderá explicá-lo clara e brevemente? Quem o poderá apreender, mesmo só com o pensamento, para depois nos traduzir por palavras o seu conceito? Que assunto mais familiar e mais batido nas nossas conversas do que o tempo? Quando dele falamos, compreendemos o que dizemos. Compreendemos também o que nos dizem quando dele nos falam. O que é, por conseguinte, o tempo? Se ninguém mo perguntar, eu sei; se quiser explicar a quem me fizer a pergunta, já não sei.” Viagem psicológica das mais viajosas. Parece que podemos resumir tudo o que foi dito, sem cair num reducionismo pueril, assim: tempo é memória, experiência e expectativa. “O tempo não pára! Só a saudade é que faz as coisas pararem no tempo”, diz o Quintana. Saudade é sentida no presente, e aquele ou aquela que a sente não pensa em guardá-la para o futuro - a não ser que a saudade seja a única ponte entre o/a que ama e o objeto amado, como a mulher que arruma o quarto do filho morto (Chico). Presente, tudo. Enfim: do ontem, não temos mais do que a memória; do futuro, nada além da expectativa e da sua absoluta incerteza; tudo o que temos, portanto, é o presente... “Presente”, “dádiva”; aproveitemo-lo bem.

Um comentário:

  1. O compositor Hermínio Gemenez diz que a saudade é "levada pela estrada longa da vida." Talvez não de todos os amores, mas de alguns e dos mortos queridos. A saudade ativa a memória que traz o passado ao presente e mantem o presente guardado para o futuro. Um grande banco de dados a nossa memória. O tempo, existência imaginária e indefinida, sucessão de dias e noites que segundo Paulo aos Efésios devemos remir porque os dias são maus. (já naquele tempo)

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patativa moog, amor, filosofia, felicidade, paixão, desejo