segunda-feira, 28 de setembro de 2009

23
.

Das aspirações cognitivas. Há, na moderna filosofia da lógica, uma acirrada polêmica sobre os pensadores chamados “portadores da verdade”; ou seja: se as sentenças – ou enunciados, ou proposições – nas quais eles se baseiam são ou não são empiricamente válidas. O termo “empirismo lógico” foi dado ao grupo de epistemólogos do Círculo de Viena. Sob a liderança de Moritz Schlick, tais pensadores eram fortemente influenciados pelas filosofias de Bertrand Russell e Ludvig Wittgenstein. No grupo, Rudulf Carnap ganhou destaque como um dos seus membros mais eminentes.
De Carnap, aqui, nos interessa a sua análise do significado de certas palavras que, adotadas pelos “empiristas clássicos”, não têm valor de verdade. O empirismo lógico procurou, sob muitos aspectos, distinguir-se do empirismo clássico de John Locke e de David Hume, por exemplo. Foi assim que os empiristas lógicos procuraram interpretar as coisas que podem ser conhecidas não somente em termos lingüísticos, ou seja, falando não de pensamentos, de juízos, de crenças, et cetera, termos ligados ao jargão psicológico que “tradicionalmente a teoria do conhecimento dos filósofos modernos empregou”, diz Luiz H. de A. Dutra. Num texto de 1959, intitulado: The elimination of metaphysics through logical analysis of language, Carnap diz que, se dissermos: “César é um número primo”, a sentença estará de acordo com as nossas regras gramaticais, mas é destituída de sentido lógico – uma vez que o predicado “número primo” não pode ser atribuído a pessoas, e César é, até onde consta, o nome de uma pessoa. Partindo daí, Carnap se opõe à linguagem dos metafísicos, linguagem essa que é, em seu sentido mais elevado, destituída de sentido – conforme ocorre às palavras “nada”, ou “nadificar”, bastante empregadas na filosofia de Martin Heidegger.
Carnap entende que, partindo da partícula de negação (“não”), Heidegger chega ao substantivo “nada” e, desse, ao verbo “nadificar”, empregando-o em relação à “chuva”, ao “chover”. Acontece que a chuva é algo do mundo extralingüístico – como também o “chover” –; ao contrário do “nada” ou do “nadificar”, que não correspondem a coisa alguma.
Para Carnap, os metafísicos são vítimas de um certo “enfeitiçamento da linguagem”. É esse enfeitiçamento que os leva a tomar, como existentes (ou reais), coisas que, não correspondendo a nada, correspondem a um termo da linguagem. É assim que, por exemplo, alguns pensadores falam sobre “princípio”, “ser”, “Absoluto”, “Deus” ou “amor”... Termos que se encontram, todos, dentro dessa classificação – ou seja: não correspondem a coisa alguma e, assim sendo, são destituídos de significado. Mas, antes que os teólogos condenem Carnap aos “quintos dos infernos”, vejamos o que Dutra nos diz: “Se Carnap entende que tais termos são destituídos de significado porque não correspondem a coisa alguma, isso mostra que ele entende o significado de um termo como aquele objeto, ou aquela coisa à qual o termo corresponde, ou aquela coisa denotada pelo termo”. A diferença entre as palavras “amor” (não-significativa) e “pudim de chocolate” (significativa), portanto, reside somente no fato de que o pudim de chocolate é um dado a posteriori, enquanto amor é uma fala a priori – embora Carnap não empregue tais termos.
“Deus”, “amor”, et cetera, são termos metafísicos que podem possuir um significado emotivo, podendo ser expressos mediante a atitude poética de quem neles acredita. Decorre daí que, a teologia, pode ser, no máximo e por respeito aos teólogos sérios, uma teopoesia; uma fala do que tem fé, e ama o objeto da sua fé - o Grande Desconhecido. A diferença entre os poetas e os teólogos está no fato de que, os poetas, não têm aspirações cognitivas, enquanto os teólogos, sim. Mas, para Carnap, a metafísica (ou a teologia) não tem significado cognitivo. O amor, como Deus, cabe apenas e tão somente na poesia, na linguagem poética.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

patativa moog, amor, filosofia, felicidade, paixão, desejo