segunda-feira, 21 de setembro de 2009

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Do “amor feinho”. Quem discorre sobre o “amor feinho” é Adélia Prado, no livro Bagagem, de 1976, sua estréia poética, encorajada por Drummond: “Eu quero amor feinho. / Amor feinho não olha um pro outro. / Uma vez encontrado é igual fé, / não teologa mais”. O amor feinho é, para Adélia, amor que descansa no encontro do Outro, onde aquieta-se, não querendo, do/no outro, mais do que ele (qual “ele”?) mesmo, tal qual é: com seus defeitos, suas virtudes, o que seja, enfim. Daí que, continuando, Adélia esclarece: “Duro de forte o amor feinho é magro, doido por sexo / e filhos tem os quantos haja. / Tudo que não fala, faz. / Planta beijo de três cores ao redor da casa / e saudade roxa e branca, / da comum e da dobrada”. A essa altura você já deve ter percebido que a poesia do amor feinho adquire uma atmosfera metafísica – coisa muito comum, em se tratando de um poema da Adélia –, impenetrável às explicações literárias e a qualquer hermenêutica que se leve a sério e queria mais do que as metáforas, as analogias. Na verdade, mais do que entender a poesia, deve-se senti-la, como uma experiência religiosa, mística, sem as interpretações fechadas do mundo real. Por isso que, também o amor feinho, como a poesia ou a fé, não “teologa mais”. Sentido/sentimento, não cérebro. “Amor feinho”, diz Adélia, “é bom porque não fica velho. / Cuida do essencial; o que brilha nos olhos é o que é: / eu sou homem e você mulher. / Amor feinho não tem ilusão, / o que ele tem é esperança: / eu quero amor feinho.” Mas, essa esperança, não é também Desejo? desejo do mesmo, e que o mesmo fosse ainda? Ilusão - porque nada nunca é o que é para sempre. A não ser que o amor feinho seja um amor sem desejo, desesperado (i.e., que nada mais espera); mas, amor sem desejo, não é amor. Isso implica que, a reboque, não poderia o amor, mesmo o feinho, esperar nada, querer nada mais do que o que se tem, se é... E mesmo isso, grosso modo, já seria um tipo de querer: querer o não-querer mais que querer. E assim, de um modo ou de outro, parece que o amor, seja ele qual for, sempre esbarra em antinomias, em paradoxos desconcertantes. Retirando o lado natural do amor, a Vontade - aquilo que, no inconsciente humano ou no instinto das bestas, é desejo de permanência, maquiado pelo idealismo romântico -, o amor também é fé, é poesia: não teologa, não filosofa... Bonito, porém falso. Uma droga!

3 comentários:

  1. Os "paradoxos desconcertantes" fazem parte dos amores e não é de hoje. Camões diz; "é um não querer mais que bem querer".... e pergunta:"mas como causar pode nos corações humanos amizade, se tão contrário a si é o mesmo amor?" concordo que o amor é fé, poesia, é falso, que faz estragos, mas não chega a ser uma droga. Droga não!!!

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  2. DROGA = vicia (no mesmo conceito, no mesmo sentimento), deixa o indivíduo fora de si. ;)

    Patativa Moog

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  3. Droga=vício. Faz sentido. Isso quer dizer que eu não interpretei de maneira correta o sentido da droga? Que droga!!!

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patativa moog, amor, filosofia, felicidade, paixão, desejo