quinta-feira, 12 de novembro de 2009

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Das flores dadas. Nada ilustra mais e melhor a permanência do amor de um homem por uma mulher (ou o contrário disso, ou ainda isso tudo invertido e misturado) do que a flor que é dada num encontro; principalmente os primeiros - embora a nossa cultura, longe daquela do Romantismo europeu dos séculos XVIII e XIX, ou dos filmes produzidos em Hollywood, não cultive essa prática com tanto afinco. A flor, pobrezinha, arrancada do seu galho, morre logo, antes do seu tempo. Do mesmo modo é com o amor realizado, mediante a conquista amorosa. Como a flor, ele também murcha, morre antes do seu tempo. O amor que mais dura ou é como a Idéia de uma rosa (sem acidentes) ou é como a própria, materializada; de plástico, porém. Essa metáfora, mais que realista, é fatalista... e não tem como ser diferente. O amor que mais dura é aquele que se assemelha à flor no pé, nunca colhida; ou aquela outra, de plástico: sem graça, sem cheiro, sem vida e sem poesia... sem um significado emotivo válido, valioso. Não é por acaso que os românticos, depois do romance, esquecem de dar flores àquelas ou àqueles que se tornam suas mulheres, seus maridos: amor realizado, flor colhida, morte. Dar flores, somente aos mortos - e com a condição de que estejam sepultados.

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