segunda-feira, 9 de novembro de 2009

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Do final sempre infeliz [II]. O Taj Mahal, que é possivelmente o maior monumento ao amor, é também a sua maior sepultura. Conforme a história, o príncipe persa Shah Jahan tinha em seu harém algo em torno de 300 mulheres, praticamente uma (ou mais) para cada dia do ano. Mas, não se sabe como, aos 21 anos, apaixonou-se perdidademente – o apaixonado, coitado!, sempre se perde – por Arjumand Begum. Aquela mulherada toda, em comparação à beleza de Arjumand, para ele, não tinha mais a menor graça. Em sua memória amorosa, somente Arjumand lhe aparecia em uma imagem colorida, as outras, todas as outras, vinham-lhe em branco e preto. Shah Jahan casou com Arjumand e tiveram treze lindos filhos, e eram felizes. Mas, quem já viu tanta felicidade assim durar? Em vindo o décimo quarto filho - ah, infeliz infelicidade! -, Arjumand não resistiu às dores do parto e, partiu. A morte de Arjumand foi também como uma morte para Shah Jahan. De repente, sem aquelas cores todas que só Arjumand tinha, o mundo inteiro ficou cinza, sem graça nenhuma. Era uma sensação sem nome, e os dias passavam assim, sem cor, sem porquês... E foi então que ele, em demonstração do seu amor por ela e para dar algum sentido à sua vida sem Arjumand, decidiu erguer aquela que seria a mais bela de todas as sepulturas, onde a sua amada poderia, para sempre, descansar. Desse modo, e por um escapismo psicológico, ainda estaria ligado a ela, ocupando os seus dias em fazer-lhe a última morada. Mandou trazer os maiores artistas e arquitetos da Pérsia e da Mongólia; comprou os melhores mármores, as mais belas pedras de rubi e de jade. Tudo para Arjumand, porque só ela merecia tanto. O Taj Mahal, para ser erguido, consumiu nada menos que 22 anos, sendo concluído em 1653. Hoje, nele, Shah Jahan descansa ao lado de Arjumand Begum... Alguns afirmam que, ao lado do enorme edifício de mármore branco, Shah Jahan planejava construir outro, de mármore preto, onde o seu corpo deveria descansar – mas isso não é confirmado por todos os que estudam a história da edificação do Taj Mahal. O certo é que, de um modo ou de outro, este era o seu desejo: ele e Arjumand, juntos para sempre, na vida ou na morte. Se, em vida, a morte os separou, agora, na morte, isso não deveria mais ser possível. O Taj Mahal é, para Tagore, “uma lágrima de amor na face do universo”. Eros e Thanatos, inseparáveis.

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