terça-feira, 10 de novembro de 2009

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Das flores e do símbolo. De acordo com a lenda, enquanto Afrodite (Vênus), ferida, gritava de dor diante de Adônis, mortalmente ferido por um javali, seu sangue caía sobre rosas, tingindo-as de vermelho. Nada mais podendo fazer, a deusa instituiu uma celebração anual para lembrar a trágica e prematura morte do seu amado. Do século V em diante, na cidade de Biblos - e em cidades gregas no Egito, na Assíria, na Pérsia e em Chipre -, realizavam-se festivais anuais em honra de Adônis. Em tais rituais, mulheres plantavam sementes de várias plantas floríferas em pequenos recipientes, chamados “jardins de Adônis”. Entre as flores mais usadas no culto de Adônis estavam as rosas vermelhas, que faziam referência ao sangue de Afrodite, derramado em demonstração do seu amor. As rosas vermelhas são, assim, símbolos do amor interminável, do fogo que arde no coração do apaixonado. É importante notar que as rosas têm espinhos, sinal de que o tal “amor interminável” pode estar bem junto de uma somatória dolorosa de memórias, de sofrimentos cravados na pele, no peito. Seja como for, e para aqueles que dão flores em suas cândidas demonstrações de amor - ou à procura de um amor ainda não “demonstrado candidamente” -, o “amor é lindo”; é o que dizem, que acreditam. A fé não precisa mesmo de outra demonstração que não a do absurdo dela mesma; fé, provada, vira ciência. Quanto mais absurda, maior é a fé - “melhor” já é conforme os critérios. Assim, e num sentido mais geral: o que é uma rosa oferecida a uma mulher ou a um homem? É um convite ao coito, à procriação. Rosa vermelha: signo do fogo da paixão, do ardor febril – diferentemente, por exemplo, do Crisântemo ou do Cravo Branco que simbolizam inocência; da Bells of Ireland que representa a boa sorte; ou dos Narcisos de amarelo festivo, a quem o poeta inglês William Wordsworth fez o famoso poema The daffodils. Mas mesmo aí, nessas “flores inocentes”, o amour de soi e a Vontade da vida imperam, nas entrelinhas da ação. Não, ninguém que não seja um comediante daria flores a uma garota se, de fato, nas entrelinhas, não visasse alguma conquista e, por fim, o coito - que é para onde todos os romances se dirigem, ou as boas amizades entre os amigos do sexo oposto. As rosas - ah, as rosas! –, essas sim são as grandes campeãs nas demonstrações do amor romântico. O dar flores, quaisquer que sejam e tenham botões - que são signos da fertilidade, das potencialidades –, está ligado, mesmo que por um mecanismo indireto, aos frutos e, diretamente, ao sexo e à vida.

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patativa moog, amor, filosofia, felicidade, paixão, desejo