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Das pavonices. O que a cauda do pavão representa para o pavão, para o cortejo da sua fêmea, também a música para os músicos, a pintura para os pintores, as esculturas para os escultores, a poesia para os poetas, e assim por diante, nas artes e nos ofícios, e mesmo na vagabundagem. Tudo no mundo, no final das contas, se resume no violento jogo da Vontade de vida que, para manter-se, lança indivíduos contra indivíduos, unindo-os ou separando-os na permanente guerra em busca dos melhores padrões genéticos, estéticos. Exemplares de boa qualidade geram exemplares ainda melhores - não “perfeitos”, mas aperfeiçoando-se, para que o mais apto sobreviva -, é a regra mais comum dessa biologia amorosa. Afinal, disso tudo, desses “jogos de amor”, ou dessa seleção natural, naturalíssima, dependem as próximas gerações. O “amor” é um artifício da Vontade, e não lhe cabe mais nada a não ser a obediência cega, mesmo que você não admita um mecanismo tão fechado, ou se perceba amando. O amor romântico, como uma sombra deste outro, é a sua sublimação idealística, uma invenção cultural e, pior caso, o desejo humano de transcendência, de encontrar um sentido para os tantos sem-sentidos do mundo, no mundo... o trágico.
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patativa moog, amor, filosofia, felicidade, paixão, desejo