sexta-feira, 6 de novembro de 2009

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Do final sempre infeliz. No amor romântico, Eros, via de regra, está ligado a Thanatos. A morte, ou o sofrimento (a paixão), é parte essencial daquilo que compõe o amor romântico, e a vida. Sendo querença, o amor é sempre furtivo, dilemático, paradoxal: se ele não há, sofre-se por sua ausência; se , dissolve-se feito nuvem, como quando Orfeu olha pra trás, já na porta de saída do reino de Hades... lá se vai Eurídece, para sempre, como quem levada por poderosas mãos. E aí, novamente, a falta muito mais terrível; e se sofre por “haver” um amor somente enquanto falta, ou memória. Já imaginou outro final para Romeu e Julieta? “E os dois viveram felizes para sempre”. Impossível! Impossível também imaginar uma Sra. Tristão que contrapusesse o dramático fim de Tristão e Isolda, de Wagner; ou uma Sra. Charlotte Werther... Não, não é possível! O trágico é muito mais real; finais felizes só combinam nas histórias infantis que a sua mãe lhe contava, ou naqueles filmezinhos tolos da Disney. “E os dois viveram felizes para sempre...” O pra sempre, sempre acaba. O mundo real é melhor representado aí, na dor, no trágico, no barco que se desprende do porto, no avião que voa longe, levando seus sonhos ingênuos de “felicidade”. Felicidade é uma palavra muito comprida! As “páginas felizes são páginas em branco na história do amor romântico”, dizia Hegel, e com razão. Sem a mesma razão, filósofos, poetas e teólogos se perdem nesse enorme abismo que separa o amor da felicidade: alguns silenciam, outros falam muito, mas dizem pouco ou quase nada; e outros, pior, alimentam a mentira secular de uma felicidade possível mediante o amor, o exercício do “amor ao próximo” (em todos os sentidos). O exercício real (da experiência própria), por fim, é o do amour de soi, e só - mesmo que a moral cristã nos diga, numa pseudo-ortodoxia fantasiada de piedade, mas filistéia, farisaica: “negue-se a si mesmo”, ou “ame o outro como a si mesmo”. Não, não é possível! Além de nós, o Outro ainda é, com todo o amor que lhe tivermos (seja ele qual for) e dedicarmos (do jeito que for), uma extensão de nós mesmos, e o que viermos a amar nele ou nela será tão somente o que julgarmos que nos falta, e/ou que nos completará; no final, e por fim, é sempre o nós que prevalece. Ainda assim, a vida do amante é, sempre, uma vida de chegadas e partidas, de primaveras e invernos, auroras e crespúsculos. “Viver é fácil [isso seria o estágio da primavera amorosa], morrer é quem são elas [o inverno crepuscular]”, dizia Guimarães Rosa. No mais, completa Oscar Wilde: “Um homem pode viver feliz com qualquer mulher, desde que não a ame”. Eros e Thanatos, inseparáveis.

2 comentários:

  1. Admirável, e impossível de discordar... Até me lembrou algumas coisas que dizia o velho Buk...

    "É possível amar o ser humano caso você não o conheça tão bem."

    e...

    "Bem, todos morrem um dia, é simples matemática. Nada de novo. A espera é que é um problema."

    (Charles Bukowski) o velho.

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  2. http://www.youtube.com/watch?v=HryPbHx_9fk, Seria legal você assistir este vídeo e relacionados meu amigo, você está precisando de conhecer coisas mais positivas, verdadeiras e felizes. Edson Ázara

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patativa moog, amor, filosofia, felicidade, paixão, desejo