quarta-feira, 4 de novembro de 2009

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Dos amorosos conselhos. “Tudo arredei da vida, em poucos segundos; bastou-me pensar na outra casa, e mais na vida e na cara fresca e lépida de Capitu... Amai, rapazes! e, principalmente, amai as moças lindas e graciosas; elas dão remédio ao mal, aroma ao infecto, trocam a morte pela vida... Amai, rapazes!” Assim termina o capítulo LXXXVI de Dom Casmurro, de Machado de Assis. No que toca ao “amai as moças lindas e graciosas”, vale o que já foi dito em Das pavonices, acima. No texto, o conselho é dado por Bentinho. Ele, voltando da casa da morte (um funeral), pensa na casa da vida (o amor primaveril que está), na casa de Capitu que lhe espera. Não sabe o moço que, também em Capitu, naquela vida toda, naquela exuberância de primavera, fermentava a morte, a sua morte - porque há uma morte em vida, que é quando Deus não responde mais às suas preces, e o céu não mais se abre ao Sol, e fica assim, pesado de nuvens, como em uma pintura de Robert Gorey. Equação medonha: quanto mais se ama, tanto mais se sofre - “não amar” também é semente de sofrimentos vários... não há como fugir da sua própria sombra. Seja como for, e para o que nos interessa aqui, os tormentos do Bentinho são de todos bem conhecidos. Ah, rapazes, moças, velhos!, conselhos de apaixonados de nada valem!

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patativa moog, amor, filosofia, felicidade, paixão, desejo