domingo, 16 de agosto de 2009

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Dos desencontros. A sabedoria popular é dotada de verdades obtidas a posteriori. E, em se tratando de sabedoria popular, nada mais rico do que os cordéis que podem ser encontrados nas feiras-livres, bancas de revistas e livrarias de todo o Nordeste. Num desses cordéis, de autoria de Manoel Monteiro, chamado de No vai e vem do amor, os encontros e desencontros amorosos são tratados e retratados com esplendorosa maestria. Como aperitivo, os dois primeiros parágrafos:


Quando eu falava com ela
Ela não me respondia,
Quando ela percebia
Que eu vinha na rua dela
Sequer na porta ou janela
Ela nem aparecia,
Quando eu chorando pedia
Ela sorrindo não dava
QUANDO EU IA, ELA VOLTAVA
QUANDO EU VOLTAVA, ELA IA.

Muito difícil dar certo
Um namoro desse jeito
Quando um quer coxa e peito
E o outro nem chega perto;
Vender areia em deserto
Eu vi logo que não dava,
Quanto mais a procurava
Mas a peste escapulia
QUANDO EU VOLTAVA, ELA IA
QUANDO EU IA, ELA VOLTAVA.

O amor romântico, para sobreviver enquanto vive - isso equivale ao “ser eterno enquanto durar”, do Vinicius -, precisa mesmo dessa dialética permanente; não, e sempre, contrária a si mesma. Pois que, senão, aniquila-se ainda/já no nascedouro. Parece que, como sempre, a sua saúde repousa no caminho do meio – mas, quem tem assim tanto equilíbrio? Quem sabe a resposta não esteja num outro cordel...

2 comentários:

  1. Por que o amor é tão mais bonito nas feiras-livres, nos cordéis ou nos grandes livros de amor?!
    Ai.. ai... lindo, lindo... E foi só um aperitivo...

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  2. Adorei o cordel!Não sei se o amor pra sobreviver precisa necessariamente de um vai e vem,mas acho que mantida a individualidade de cada um no casal(sem esse de juntos somos um só),o que é saudável,haverá uma tb saudável dualidade. bjo

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patativa moog, amor, filosofia, felicidade, paixão, desejo