segunda-feira, 17 de agosto de 2009

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Das alegrias. Márcio, finalmente, completara seus tão sonhados 18 anos. Seu pai, em cumprimento à promessa que fizera, comprou a moto Honda, 250 cilindradas, vermelhinha, uma que o bom menino esperava de muito. Depois de mil recomendações da mãe, ele poderia levar Juliana, sua “quase” namorada, para passear no farol, na Ponta do Seixas. Não ficava nada mal impressionar a garota que, na garupa, deveria abraçá-lo pela cintura, apertando-o contra si. O mundo era lindo! e todas as vias eram veias que davam no coração do paraíso. Marcaram para o domingo, quando o sol da tarde já não estivesse em um para casa habitante de João Pessoa. O ar que acariciava o seu rosto, entrando pela viseira, dava uma agradável sensação de aventura, de liberdade. Nas mudanças de marcha, que provocavam levíssimos balanços, Juliana o abraçava... tudo como ele havia sonhado. Seus sonhos, finalmente, se realizavam. Só faltava agora, para que tudo fosse perfeito, que Juliana dissesse “sim”; “sim, eu quero ser a tua namorada”. Márcio estava cansado dessa coisa de ficar com essa ou aquela menina. Tivera tantas por uns tempos e, agora, no fim, não tinha ninguém, realmente. Mas, no pé em que as coisas andavam, isso era apenas uma questão de dias, talvez de horas. Márcio pensava nisso quando, numa curva no final da praia de Cabo Branco, viu um vira-lata atravessar a pista, não deu para frear. Ele e Juliana estatelaram-se contra um poste com a moto desgovernada. Juliana foi lançada contra o meio-fio e teve o crânio esmagado, fraturas expostas, morte instantânea. Márcio tinha o braço esquerdo e o pescoço quebrados; morreria minutos depois, olhando de lado, vendo o cão fazer círculos na pista, rodando, deitado de lado, ganindo, sangue escorrendo pelo canto da boca. Nos dias seguintes, o povo da cidade não falava de outra coisa. Os pais do Márcio, numa das visitas que lhes fiz, deram-me de presente o disco que ele ouvia antes de sair para a casa de Juliana, o álbum Ouça o que eu digo: não ouça ninguém, dos Engenheiros do Hawaii. Disseram ainda que, quando a sua irmã mais nova foi desligar o aparelho, a canção que tocava, dizia: “É muito engraçado que todos tenham os mesmos sonhos e que o sonho nunca vire realidade”. Lembram bem disso porque a frase ficou martelando em suas cabeças, como se alguma relação houvesse com o ocorrido; enfim. Das alegrias, nunca se sabe. Dias depois, no cemitério do Cristo Redentor, eu levaria flores pros dois; mas sabia que isso já não fazia a menor diferença.

4 comentários:

  1. Patativa, você é uma pessoa de muitas leituras. Não é à toa que tem tantas histórias pra contar. Nessa, apesar do lugar meio que comum, uma espécie de "déjà vu" pra mim, propiciou-me uma tremenda gargalhada. Adorei, principalmente a partir do momento em que o vira-lata entra em cena.
    Um beijo, Seu Patativa!
    Tela.

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  2. Queridas Tela e Clarissa, obrigado pelos comentários sempre tão amáveis. Gosto quando vcs comentam (concordando ou discordando comigo), pq sei que vcs são bem capazes e, assim, não é um simples comentário. Beijos pras duas. P.

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  3. Sempre entro aqui porque, apesar de não ser uma igreja, a porta está sempre aberta e sempre fui bem recebida.
    Você é um amor, Patativa.
    Outro beijo!

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  4. Só uma dúvida...suas histórias(em especial essa última) são inspiradas em acontecimentos reais?! Pode ser só curiosidade mas para mim faz toda a diferença, com relação a esse texto!---> Izabel

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patativa moog, amor, filosofia, felicidade, paixão, desejo