quarta-feira, 12 de agosto de 2009

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Da arte e do artista. Como todo mundo sabe, Vinicius de Moraes foi um grande conquistador; um tipo de Don Juan brasileiro. Mas, conforme conta Ronaldo Bôscoli no livro-memória Eles e Eu, escrito por Luiz C. Maciel e Ângela Chaves: “Vinicius estava preocupado com sua vida amorosa. Não sabia se as namoradas o amavam como homem ou à sua fama como poeta”. E foi por isso que, ainda segundo Bôscoli, o Poetinha resolveu perguntar a Otto Lara Resende: “Otto, você é meu amigo, me diga sinceramente. Você daria pra mim, mesmo que não soubesse que sou o Vinicius de Moraes?” “Claro que daria!”, foi a resposta. A dúvida do Vinícius tem fundamentos, e muitos. O melhor deles é o que nos mostra que, dentre outras coisas, as pessoas costumam amar não o artista, mas o que ele representa: amam a representação, a imagem. O artista, armado da arte, é aquele que, nas dores do mundo, mostra um escape. A arte, sim, foi a saída que os gregos encontraram para fazerem frente à grande tragédia que perpassa o mundo; e essa é a tese central do livro O nascimento da tragédia, ou Helenismo e pessimismo, de Nietzsche. O artista é amado porque as pessoas vêem nele, como vêem num santo messiânico ou num profeta, uma saída para algo mais que a tragédia: transcendência. O artista, porém, como os santos messiânicos ou os profetas, é apenas um portador da “palavra do Divino”. As pessoas amam, assim, não o artista, exatamente, mas o Divino – que pode ser qualquer coisa que transcenda a materialidade fria da razão, do fenômeno, do sensível, ou do “mundo da vida”, como Jürgen Habermas diria. Jocosidade à parte – a propósito da resposta de Otto –, e sem pretensões de definição, o amor é uma fatalidade da Vontade que atua igualmente entre dois que são diferentes, com a promessa vã de torná-los iguais. E isso tudo, assim dito, depõe contra a idéia de uma “alma-gêmea”.

3 comentários:

  1. Sim, mas qual é a sua tese? O que você diria? Teria assim tanta dúvida ou relegaria ao abandono todas essas certezas teóricas que vão de Nietzsche a Harbermas? Isso sim eu gostaria de saber, o resto a gente lê nos livros! ----> Izabel

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  2. Querida Izabel, a MINHA TESE vem, mais adiante, nas postagens do Livro 3, principalmente. Por enquanto eu levanto poeira e tento incitar meus leitores a pensarem as questões por eles mesmos - com direito a discordarem de mim e tudo o mais. Julgo excelente esse nosso PODER de duvidar de tudo e, aí, duvidar da dúvida - essa pode ser, pra necessidade da hora, a MINHA TESE TEMPORÁRIA, ok? Um beijo, querida. (Patativa)

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patativa moog, amor, filosofia, felicidade, paixão, desejo