sábado, 8 de agosto de 2009

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Dos vazios. A cada nova conquista, Rafael se sentia mais vazio, mais sozinho. Não lhe adiantava mais “pegar tantas meninas”, nenhuma lhe satisfazia por muito tempo. Cada rosto diferente que chegava era carregado de promessas, de novidades; mas, nos dias que se seguiam, o tal rosto, antes enigmático, cheio de brilhos e mistérios, transmudava-se, mergulhava no comum que era, que é cada um, cada uma. “Eu me acostumo rápido demais com a beleza”, dizia, dando a entender que a menina, por mais linda que fosse, perdia a graça, o brilho, perdia a cor, morria para os seus sentimentos. “Vai ver que tu é gay, não? Já pensou nisso?” “Sou não, Patativa; que sou hétero, tenho certeza.” “Então você é só mais um sem vergonha”, eu lhe dizia, rindo – porque não sabia mais o que dizer. Certo é que, a cada “Adeus, a gente se vê por aí”, Rafael sentia como se algo dentro de si fugisse, como um balão de gás, como se uma parte sua partisse com cada menina que ia embora, que entrara na sua vida e que, agora, saía. Era preciso encontrar alguém que, mesmo não sendo perfeita, permanecesse, porque senão, em breve, ele mesmo sumiria, fragmentado em mil pedaços. Um dia eu li o poema “Propiciação”, de Oswald de Andrade, do livro Serafim Ponte Grande: “Eu fui o maior onanista de meu tempo / Todas as mulheres / Dormiram em minha cama / Principalmente cozinheira / E cançonetista inglesa / Hoje cresci / As mulheres fugiram / Mas tu vieste / Trazendo-me todas no teu corpo”, e completei: “um dia vai aparecer uma dessas, que trará consigo todas as outras; enquanto isso não acontece, não vá se perder por aí, e tente gostar mais de você mesmo”. Pra isso, precisa de Freud não. Todo mundo sabe: a criança que mora em nós nunca cresce; o que cresce mesmo são os brinquedos dos nossos desejos.

4 comentários:

  1. Que lindo o final do texto: " a criança que mora em nós nunca cresce; o que cresce mesmo são os brinquedos dos nossos desejos."
    Acho interessante o linguajar das personagens (suuuuuuuper atual) com o aspecto psicológico delas.São românticas.
    Bom, penso também que o romantismo que mora em nós não cresce, não modifica; o que cresce ou modifica são as pessoas dos nossos desejos.
    Um beijo, Patativa!
    Tela.

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  2. Gostei,e como Tela,gostei muito do final.E acho que o desejo é vital pra vida(tanto que a gente sabe disso desde criacinha!hehe)
    bjin

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  3. Muito legal Patativas!!!! Captaste muito bem as agruras do cotidiano de um certo conhecido nosso!!! huahuahua!!!!

    Parabéns fio!!!

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  4. Márcio,

    assim que eu coloquei o texto, mostrei ao noss AMIGO EM COMUM... rsrsrs...
    Me diverti pacas escrevendo essa MEMÓRIA.
    Um abraço, man. E apareça mais vezes.
    P.

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patativa moog, amor, filosofia, felicidade, paixão, desejo