domingo, 17 de janeiro de 2010

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Das razões de cada um. De todos os modos e por tudo o que as pessoas fazem – e aqui estão suspensos todos os juízos morais que separam o bem do mau, a boa ação da má, et cetera –, elas só desejam serem aceitas, amadas, e só querem, por fim, a felicidade. Por isso, todos são inocentes; por isso, todos são culpados. Quando Renato Russo, na letra de “Eu era um lobisomem juvenil” - do álbum As quatro estações (1989), da Legião Urbana -, diz que “todos têm suas próprias razões...”, não faz mais que repetir a sabedoria universal que, atravessando os milênios, vincula a felicidade não ao prazer, mas à sua busca (os estóicos, o budismo e a ética aristotélica, por exemplos). É a constatação do velho/jovem Dorian Gray, personagem de Wilde. Já quase cansado de uma vida de excessos, Dorian ouve em silêncio o lorde Henry, que diz: “A paixão romântica vive através da repetição, e esta transforma o desejo em arte. Além disso, quando se ama, é como se fosse a primeira e única vez. A diferença de objeto não altera a unidade da paixão. Pode apenas intensificá-la. Ao longo de nossa vida, não costumamos ter senão uma grande experiência. O segredo da vida consiste em repeti-la o maior número de vezes possível.” “Mesmo que essa experiência nos tenha ferido, Harry?” Pergunta a duquesa. “Principalmente quando ela nos feriu”, é a resposta dele. Daí a duquesa se volta para Dorian, como se procurasse um parceiro que discordasse de Harry, aliando-se a ela. Mas ela não o encontra em Dorian, que lhe diz: “Estou sempre de acordo com Harry, duquesa.” “Mesmo quando ele está errado?” “Harry nunca está errado, duquesa.” “E consegue ser feliz com a sua filosofia?” E é aqui que chegamos onde queremos: a resposta desencantada de Dorian, que é o retrato da alma do mundo, mas em seu modo negativo: “Nunca busquei a felicidade. Quem no mundo deseja a felicidade? Busquei apenas o prazer”. Deveras. As razões comuns do amor/paixão romântico/romântica são como a criança que se queima no fogo, mas não consegue evitar de continuar gostando dele: “That a burnt child loves the fire”, diz lorde Harry, alertando sua prima contra os terríveis encantos do sr. Gray. Mas já era muito tarde. Fogo! A sensação é tudo! O equilíbrio, um ideal. O amor romântico, duas palavras de éter e gim. A paixão romântica, uma fatalidade... e fogo!

3 comentários:

  1. Falar de paixões e fatalidade,como peças afins de um jogo, tendo o prazer como o elemento uno - o cheque-mate, eu diria, só trazendo o Oscar Wilde que os exprimiu de uma forma suprema!

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  2. Rapaz, você me convenceu a finalmente ler eese livro que tenho desde criança e até hj ficava me encarando, e eu não tinha coragem de começar. Muito bom o tetxo. quero esse livri quando ele sair.

    Um abraço
    Marcos

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  3. Obrigado a Nice, Clarissa, Marcos, "J.", Marta, Ricardo e todos os que comentaram as duas últimas postagens. Obrigado a quem também leu, só leu... Todos vocês são muito queridos!

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patativa moog, amor, filosofia, felicidade, paixão, desejo