sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

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Das riquezas efêmeras. Umas citações. “Onde estiver o teu tesouro, ali estará também o teu coração” (Jesus, o Cristo). Nessa, primeira e fundamental, o Cristo tem o coração no céu, na cidade celeste, o Reino de Deus. E daí, a seguinte: “Pois aquilo que alguém ama, isso ele, com certeza, perseguirá, disso ele gostará de falar, ali estão todos os seus pensamentos e o seu coração. Por isso, também, Sto. Agostinho diz: Deus meus amor meus, aquilo que amo, é o meu Deus” (Matinho Lutero). Aqui, agora, o monge alemão e cabeça da Reforma protestante do século XVI, na sua hermenêutica sobre a fala do Cristo e o texto do santo africano, pensa em dois amores: no do céu que desce à terra e, nela, faz promessas de outros: amores bons, amores possíveis que espelham-se naquele lá, Perfeito. Mas aí vem o Mario Quintana e, não sendo um Cristo ou um monge, mas poeta – e acima de tudo, ao menos aí, realista –, avacalha com as transcendências que mentem dizendo ser possível ir além do fenômeno, haver mais que o fenômeno. O amor, diz ele, não é mais que um folhetim, um romance barato impresso em papel jornal, vendido em bancas de revistas; ou um poema de adeus, depois do encontro, depois do sexo, depois do êxtase: “Eu te amo tanto que / sou capaz de nos atirarmos os dois na cratera do Fuji-Yama! / Mas, aqui, / o amor é um barato romance pornô esquecido em cima da cama / depois que cada um partiu – sem saionara nem nada - / por uma porta diferente.” E não me sai da cabeça uma coisa que li, do danado do Antonio Nóbrega, pernambucano brincalhão: “Menina, vou te ensinar / como é que se namora: / põe a alma num sorriso / e o sorriso põe pra fora.” O namorar, aí, leve, leve, muito leve, não diz nada além da alegria do já-agora-tudo-junto, sem promessas de amor – amor nenhum; muito menos um que seja eterno, que pense em eternidades. O amor romântico, como seus avôs conheciam, virou artigo comercial, depois virou a cabeça de seus pais, e agora está virando brincadeira: “O anel que tu me deste era vidro...” Antes, anel dado, parecia bom; é, parecia... mas era vidro, só: bijuteria. Amor barato; alegria fácil, igual bolo em festa de criança. E depois do bolo, hum? Felicidade é uma palavra muito comprida; felicidade amorosa, mais comprida ainda: “O amor que tu me tinhas era pouco e se acabou”. “Tristeza” rima com “certeza”, certeza! E acabou-se o que era doce.

2 comentários:

  1. Tristeza rima com certeza.
    Perfeito! mas doloroso.

    um abração.
    E exelente texto!

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  2. E acabou-se o que era doce! Me lembrou minha mãe falando. Adorei o texto professor parece o senhor falando. rsrs

    Marcos

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patativa moog, amor, filosofia, felicidade, paixão, desejo