quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

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Dos vícios. Você, certamente, já ouviu falar do Grupo MADA (Mulheres que Amam Demais). O MADA, conforme consta no site do Grupo, “é um programa de recuperação para mulheres que têm como objetivo primordial se recuperar da dependência de relacionamentos destrutivos, aprendendo a se relacionar de forma saudável consigo mesma e com os outros”. Aí também se descobre que “o Grupo foi criado com base no livro Mulheres que Amam Demais, de Robin Norwood, publicado em 1985 (Editora ARX). A psicóloga e terapeuta familiar Robin Norwood escreveu o livro baseado em sua própria experiência e na experiência de centenas de mulheres envolvidas com dependentes químicos. Ela percebeu um padrão de comportamento comum em todas elas e as chamou de ‘mulheres que amam demais’. No final do livro, a autora sugere que se abram grupos que tratem da doença de amar e sofrer demais. No Brasil, o primeiro Grupo foi aberto em São Paulo, por uma mulher casada com um dependente químico que se identificou com a proposta do livro”. A primeira reunião desse Grupo foi realizada em 16 de abril de 1994. No Rio de Janeiro, o primeiro Grupo surgiu em 06 de julho de 1999. Depois que o Grupo foi divulgado na novela Mulheres apaixonadas (17 de fevereiro a 10 de outubro de 2003), da Rede Globo, através da alucinada Heloísa, personagem interpretada por Giulia Gam, os Grupos proliferaram país afora. As mulheres que vão às reuniões do Grupo são, por assim dizer, viciadas em amar – à semelhança dos alcoólatras que vão ao AA. O tratamento que buscam, além do apoio de outros que sofrem do “mesmo mal”, em tese, tem por finalidade o aprender a “lidar com isso”... mesmo que seja “só por hoje”. E assim se vai vivendo e, também, combatendo o vício. Mas, aí, quando observamos “Os 12 passos do MADA”, que são facilmente encontráveis em livros e sites da internet, vemos que a ONG não oferece, como Ovídio com o seu Remedia amores (Os remédios para o amor), uma cura para o amor, no infinitivo, ou para o amar, em seus excessos de transitividade, apenas transferem o sentimento que, doentio, estava lançado na horizontal, para um outro nível, o vertical: “1. Admitimos que éramos impotentes perante os relacionamentos e que tínhamos perdido o controle de nossas vidas; 2. Passamos acreditar que um poder superior a nós mesmas poderia nos devolver a sanidade; 3. Decidimos entregar nossas vidas aos cuidados de Deus, na maneira como O concebíamos; 4. Fizemos um minucioso e destemido inventário moral de nós mesmas; 5. Admitimos perante Deus, perante nós mesmas e outro ser humano, a natureza exata de nossas falhas; 6. Nos dispusemos inteiramente a deixar que Deus removesse os defeitos do nosso caráter; 7. Humildemente, pedimos a Ele que nos livrasse de nossas imperfeições; 8. Fizemos uma lista de todas as pessoas que prejudicamos e nos dispusemos a reparar os erros que cometemos com elas; 9. Fizemos reparações diretas dos danos causados a tais pessoas, sempre que possível, salvo quando fazê-lo significasse prejudicá-las ou a outrem; 10. Continuamos fazendo o inventário pessoal e, quando estávamos erradas, nós o admitíamos prontamente; 11. Procuramos, através da prece e da meditação, melhorar nosso contato com Deus, na forma em que O concebíamos, rogando apenas o conhecimento de Sua vontade e forças para realizar essa vontade; 12. Graças a esses passos, experimentamos um despertar espiritual e procuramos transmitir essa mensagem a outras mulheres, dependentes de pessoas. Procuramos praticar esses princípios em todas as nossas atividades. Nada, absolutamente nada, acontece por equívoco no mundo de Deus... A não ser que eu aceite a vida totalmente do jeito que ela é, não poderei ser feliz. Preciso me concentrar menos no que é preciso mudar no mundo e mais no que eu preciso mudar em mim e nas minhas atitudes.” Em resumo: aquelas que eram loucas por um amor terreno que não podiam ter, mas que podiam vê-lo, agora podem ser loucas por um amor que acreditam poderem ter, mesmo que nunca o vejam. Resumo do resumo: pessoas não largam vícios, elas os substituem.

2 comentários:

  1. Eu vejo essa substituição por outro ângulo que é o lado positivo da tentativa de libertação de algo considerado ruim na vida do ser humano. Alguns anos atrás frequentávamos uma comunidade evangélica muito conhecida chamada Rema, cujo objetivo dos seus participantes era evangelizar e para isso usavam a música. Eles tambem acolhiam por um tempo pessoas que precisavam de apoio espiritual. Numa das vezes que fui na casa que eles alugaram no bairro dos Estados para esse trabalho, havia um grupo de tres ou quatro pessoas que tinham deixado o vício das drogas "pesadas", mas toda tardinha tomavam chimarrão e não passavam sem essa bebida. Eu lembro como se fosse hoje, e com a intimidade que eu tinha com os meninos afirmei: Agora eles são viciados em chimarrão! o jovem que me atendia, professor de violão disse: menos mau você não acha? é maravilhosa nossa memória. Posso ver, ouvir e até sentir o cheiro do chimarrão verdinho e triturado na caixa sobre a mesa da sala onde eles bebiam e conversavam alegremente. Nesse caso, mudança de hábito; no texto, mudança de foco. Por um tempo até que tudo se normalize, concordo que não deixa de ser uma substituição. Menos mau, você não acha?!!!

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  2. As pessoas também não largam suas crenças. Elas substituem. Aprendi isso.
    Um beijo, Seu Patativa. Fazia tempo que eu não aparecia por aqui.

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patativa moog, amor, filosofia, felicidade, paixão, desejo