quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

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Dos empreendimentos. O amor possível - disso o próprio Cristo tratou há dois mil anos -, que é o mesmo que o amor romântico, é um empreendimento comercial, um jogo de troca: “Tudo o que vós quereis que os homens vos façam, fazei-o vós a eles, pois esta é a lei e os profetas”. Quer dizer: toda a Lei, na sua essência, se resume nisso, como máxima, como fórmula. Mas tal fórmula é bem mais antiga, podendo ser encontrada nos ensinos de Isócrates e Confúcio, dita de modo negativo - cerca de quinhentos séculos antes de Cristo. Também chamada de medida quantitativa do Eu/Outro, pode ser vista no capítulo IV do Livro das explicações e das respostas em vinte capítulos, de Confúcio: “O Mestre disse: ‘Minha Via é costurada com um só fio’. Tseng tzeu [discípulo de Confúcio] respondeu: ‘Com certeza’. Quando o Mestre se retirou, seus discípulos perguntaram o que ele quisera dizer. Tseng tzeu respondeu: ‘A Via do nosso Mestre consiste na lealdade e no amor pelo outro como por si mesmo’”. Em Isócrates, está assim: “Não faças aos outros aquilo que te enfurece quando feito por putos”. Dá no mesmo, de modo positivo ou negativo; na boca do Filho de Deus ou de sábios e filósofos mofados. É também nesse sentido que Marcel Proust trata sobre o amor: “Desejamos ser compreendidos, porque desejamos ser amados, e desejamos ser amados, porque amamos”. Mais desse amor é dito por São Francisco, na famosa litania a ele atribuída: “Pois é dando que se recebe; é perdoando que se é perdoado...” O dar sem nunca esperar receber não existe nem mesmo nas Escrituras, onde a graça (a doutrina) teria a função de anular qualquer “expectativa” da parte da divindade, ativa, em relação à humanidade, passiva (no caso do amor dispensado), a quem dá o Filho como sinal de amor sem limites. Afinal, está escrito, e como o mandamento mais firme e constante de todo o Velho e Novo Testamento: “E agora, ó Israel, que é o que o Senhor teu Deus pede de ti, senão que temas o Senhor teu Deus, e que andes em todos os seus caminhos, e o ames...” Daí, seguindo a tradição milenar e perfeitamente dentro da ortodoxia teológica, o franciscano Frei Anselmo Fracasso, em A arte de viver feliz (que em 2004 estava na sua vigésima quinta edição), aconselhar aos seus muitos leitores: “Queres ser amado? Procura amar; queres ser compreendido? Esforça-te para compreender; desejas ser respeitado? Respeita os outros; queres misericórdia? Perdoa sempre”. Que se conclui de tudo isso? Que o amor perfeito ou o “romance ideal” servem bem ao Mercado: pra vender filmes, novelas, canções, livros...

2 comentários:

  1. :O
    nossa! nunca tinha analisado essa perspectiva...o dar, sempre esperando algo em troca...

    Mas concordo com o final...Livros, filmes, romances de novela...tudo jogada de interesse mercantil...

    Empreendimentos!

    Genial!

    obrigada pela visita no meu blog.
    Abraço.

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  2. "Um jogo de troca"...
    E qual relação não é pautada nisso?!

    Legal, Patativa!!!
    Saudade de ti e das tuas palavras ao vivo...
    Indiquei teu blog lá no meu twitter...

    Bjoooo
    Cláudia Duarte

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patativa moog, amor, filosofia, felicidade, paixão, desejo