domingo, 13 de dezembro de 2009

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Das similaridades. Você, certamente, já deve ter lido o poema do Vinicius que diz: “Todos os amores são iguais...” Pois as histórias de amor, saiba, mesmo as mais antigas, também o são. A história triste de Parvati, mulher de Shiva, é exemplo disso. Shiva, o grande Shiva, um dos grandes da Trimurti (vocábulo sânscrito que significa: “o que tem três formas”; na mitologia hindu, é a trindade constituída por Brahma [princípio criador], Vishnu [princípio conservador] e Shiva [princípio destruidor]), vivia em constante contemplação. Sua esposa, Parvati, linda e ardente, sofria ante a infinita indiferença do deus. Assim, e para mudar a situação, recorre aos deuses amigos, lhes pede conselhos, implorando-lhes que tenham piedade. Vinha chegando a primavera. Flores e cantos das aves pelos galhos... Os deuses, condoídos das mágoas de Parvati, enviaram até Shiva, o frio e indiferente, Kama, ardente deus do Amor que se fazia acompanhar da Voluptuosidade (no Ocidente, equivale àquilo que Freud chamaria de “pulsão”, Sexualtrieb), sua esposa. Tudo foi combinado e disposto para vencer a frieza do solitário Shiva, imerso em cismas. Parvati, bela e ardente, se aproxima dele. Kama distende o seu arco infalível, pronto para acertá-lo. Porém Shiva, o de três olhos, com seu terceiro olho, descobre a trama e, impiedoso, fulmina Kama. Vencer a Vontade, a Volúpia e os seus impulsos, afinal, é competência de um deus. Parvati, desolada, se desespera, quase enlouquece. Impreca e soluça... tudo é em vão. Vencida e cansada, retira-se do mundo, entregando-se à meditação. Mas Shiva apiedou-se de tão grande amor e de tão invencível fidelidade. Consolou-a prometendo-lhe ressuscitar Kama, o deus do Amor. Kama, porém, sempre morre. De fato, as “páginas felizes são páginas em branco na história do amor romântico”, dizia Hegel.
Assim, e com pequenas variações ao tema, as histórias do amor romântico são pontuadas de esperanças e desastres, e mais esperanças. Nos desastres da vida e da morte, vêm aqueles estados psicológicos que, baseada em entrevistas com pacientes terminais, a pesquisadora em Tanatologia (Eros, como já vimos, sempre se acompanha de Thanatos), Elisabeth Kübler-Ross, propôs. Conforme ela, a maioria das pessoas atravessa estágios seqüenciais quando se deparam com o sofrimento e com a morte. São eles: negação (que se acompanha da vontade de isolamento), raiva, barganha, depressão e, por fim, aceitação. Tal estágio, convém notar, é aquele que mais se aproxima da sabedoria estóica e, exatamente por isso, parece ser o mais prudente e, evidentemente, o mais difícil de ser atingido. Viver, aceitar a vida, suportar a dor... é preciso enganar os sentidos, é preciso inventar a arte. E é aí que se instala, novamente, a esperança; e o jogo recomeça sem jamais ter fim. O amor romântico é canteiro de sofrimentos, de descontentamentos. Amar é violento.

3 comentários:

  1. A sorte existe para quem acredita nela, o sofrimento no amor também. Amor que doi, não é amor. Se não te faz feliz, não importa o que diz a filosofia ou a história, esquece e segue.

    Isabella.

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  2. Ui,love hurts!hehe Viver hurts,às vezes,tudo hurt!hehe Mas como vc diz, estando na vida,na roda viva famosa da música,estamos também no jogo,o jogo das relações mesmo,aquele dar e receber,ou às vezes só dar e nada receber,ou nem dar e mesmo assim receber e todas as variações possíveis. E no jogo,na vida,tudo pode acontecer,e mesmo que doa,a gente segue,acho que porque é tudo muito fascinante pra ser deixado de lado. ;)

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  3. Amo os textos e as obervações psicológicas. é uma aula. Serei a primeira a comprar o livro viu professor? Nice

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patativa moog, amor, filosofia, felicidade, paixão, desejo