terça-feira, 15 de dezembro de 2009

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Da solidão universal. Estrelas são corpos celestes luminosos formados de plasma. Dada a enorme pressão interna que têm, produzem energia por fusão nuclear, transformando átomos de hidrogênio em hélio. A energia que geram é emitida através do espaço em forma de radiação eletromagnética (luz), neutrinos e vento estelar. Apesar de parecerem bem próximas umas das outras, como vemos – Heráclito de Éfeso dizia que o sol tinha o mesmo tamanho de um pé humano –, a verdade é que estão, às vezes, há milhares e milhares de quilômetros umas das outras, ardendo em incandescente solidão. E nós às vemos brilhando no breu que cobre o mundo, bem próximas, como quem conversando. O brilho de algumas dessas estrelas pode levar centenas, milhares de anos para que nós, aqui da terra, possamos percebê-lo, quando podemos (no vácuo, a luz viaja a aproximadamente 300.000 quilômetros por segundo). Algumas estrelas que vemos, na verdade, já morreram; o que vemos é o brilho que elas emitiram há muito, muito tempo. Assim são as estrelas: brilham, mesmo depois de mortas. Mercúrio, Vênus, Marte, Júpiter e Saturno são os planetas que podem ser vistos a olho nu, aqui de onde estamos. Eles também brilham no breu do céu, e nós os vemos, pelas estrelas, iluminados. Assim são as estrelas: de tanta luz que têm, emprestam-na àqueles que não têm luz alguma – como alguns artistas que aparecem na TV. Esses, que não são estrelas, realmente, tão logo morrem – e, às vezes, nem chegam a tanto –, são esquecidos; eram apenas “astros”. As estrelas são amadas porque têm luz própria e, com sua luz, seu carisma, nos falam da beleza que há, do encanto que se esconde para além dos horizontes, das manhãs que existem no porvir. E nós sempre esperamos que, para o final da noite de nossa alma crepuscular, brilhe um sol qualquer, venha uma aurora. E acreditamos que “há tantas auroras que não brilharam ainda...”, como escrito no Rigveda (ou Rig Veda, “Livro dos Hinos”, é o Primeiro Veda, um dos textos sagrados mais importantes do hinduísmo). Mesmo distantes, as estrelas nos tocam e se tocam em seus abraços de luz – e é assim que nascem as cores, e é assim que também nos dizem que a solidão, como aquela que ocupa o lugar de um amor que se foi para sempre, é universal, cósmica... e que, por isso mesmo, pode e deve ser compartilhada, pode e deve ser... menos solidão; estamos todos juntos nela, afinal. No capítulo 38 do Livro de Jó, Deus aparece como a Sabedoria Criadora que, num discurso, afirma que “cantavam [juntas] as estrelas da manhã”. E Olavo Bilac, “príncipe dos poetas brasileiros”, diz que, para ouvir a canção das estrelas, há que se estar amando: “‘Ora (direis) ouvir estrelas! Certo / Perdeste o senso!’ [...] / E eu vos direi: ‘Amai para entendê-las! / Pois só quem ama pode ter ouvido / Capaz de ouvir e entender as estrelas’”. Poema que o cearense Belchior, não por acaso, insere parte na letra da canção Divina comédia humana, tentando dizer, aí, que “o amor é uma coisa mais profunda que uma transa sensual”. Se tudo cabe na poesia, é que a poesia não exige provas, não exige razões discursivas - dizer, basta. Tudo cabe numa poesia... até mesmo um céu inteiro de estrelas vivas. Bem assim são, também, os discursos do amor romântico. Tais discursos só podem ser e fazer parte, essencialmente, de uma divina comédia, e no sentido mais poético e jocoso da palavra... divina.

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patativa moog, amor, filosofia, felicidade, paixão, desejo