sábado, 26 de dezembro de 2009

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Do fazer e do sofrer. Em um texto de 1919, dedicado à juventude alemã, intitulado “A volta de Zaratustra”, Hermann Hesse fala sobre a inevitabilidade do sofrimento e sobre os seus benefícios: “Fazer e sofrer, que constituem juntos a nossa existência”, diz ele, “são um todo, são uma só coisa. A criança sofre quando é concebida, sofre seu nascimento [contrariamente, conforme a lenda, Zoroastro, ao nascer, ria], sofre seu desmame, sofre aqui e ali, até que, por fim, sofre sua morte. Mas todo o bem que há nela, e pelo qual ela é elogiada ou amada, é apenas um sofrimento bom, o verdadeiro sofrimento, pleno e vivo. Saber sofrer bem, é mais do que metade da vida. Saber sofrer bem é a vida toda! Nascer é sofrer, crescer é sofrer, a semente sofre a terra, a raiz sofre a chuva, o botão da flor sofre a rega. Assim, amigos, o homem sofre o seu destino. O destino é terra, é chuva, é crescimento. Destino dói.” Hesse usa a figura de Zaratustra – como também faço aqui, alguma vezes, no Livro 1 – para dizer o que ele mesmo pensa, como também fizera Nietzsche ao ressuscitar Zoroastro, profeta persa do século VII a.C. E ele completa: “Do sofrimento vem a força e a saúde. São sempre as pessoas ‘saudáveis’ que tombam de repente e morrem por causa de uma simples corrente de ar. São as que não aprenderam a sofrer. Sofrer endurece, torna-nos de aço. Há crianças que fogem do menor sofrimento. Eu realmente amo as crianças, mas como poderia amar aos que pretendem permanecer crianças pela vida toda?” Budismo, Schopenhauer, Nietzsche, Hesse, eu, (você?)... O tempo passa, e o que se mantém é o eterno retorno do mesmo, e o mesmo se veste de sofrimento, e isso não é uma fantasia carnavalesca, festa de foliões. Vida real: desiludido carnaval.

3 comentários:

  1. Bom te ver por lá... hoje li qualquer coisa sobre a essência da Beleza:

    "Porque o que é bonito é o que captamos enquanto passa. É a configuração efêmera das coisas no momento em que vemos ao mesmo tempo a beleza e a morte. (...) Estar vivo talvez seja isto: espreitar os instantes que morrem."

    Lembrei imediatamente do professor de filosofia e pensei em passar por aqui. Chegando, leio esse texto sobre os "efeitos medicinais" do sofrimento... rsrs como assim ninguém elogia? Está perfeito!
    Apesar dos “efeitos medicinais”... pra você, felicidades sempre, manhãs, tardes e noites de todos os dias.

    Beijos.

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  2. "Vida real: desiludido carnaval." Amei isso! Você parace uma pessoa triste e otimista. Que contraste tão interssante.

    beijos da Nice. =}}}

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  3. Eu gostei.Tem umas frases muito bonitas e bem construídas,e a idéia foi bem desenvolvida.Não há remédio que nos poupe da vida,do sofrimento,aliás até há né,mas aí,concordando com o que vc disse, evitando-se o sofrer evita-se o viver,e não acho que valha a pena.
    bjos,Pata =)

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patativa moog, amor, filosofia, felicidade, paixão, desejo