segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

62
.
Das razões da loucura. “A verdade é que amamos a vida, não porque estamos acostumados à vida, mas porque estamos acostumados ao amor. Há sempre um pouco de loucura no amor. Mas também há sempre um pouco de razão na loucura”. Dito por Nietzsche, por boca de Zaratustra. Viver e amar são conseqüências circunstanciais do existir, da existência, ou ek-sistência – como faz Heidegger, interpretando o termo etimologicamente, com o fito de acentuar sua força transcendente. “Existencialidade”, enquanto termo, não é empregado no mesmo sentido com que se diz que esta mesa ou este sol que entra por esta janela “existem”, designa, porém, a existência interior e pessoal do humano, apontando para uma relação experiencial e subjetiva com o mundo e com o Outro, no mundo. O ser (no sentido de condição) humano, nessa acepção, é/existe como antecipação de suas próprias possibilidades, suas conseqüências – como na conhecida frase do filósofo espanhol Jose Ortega Y Gasset: “Eu sou eu e minha circunstância. Se não salvo a ela, não salvo a mim”. Assim, o ser humano, como antecipação e possibilidade, sendo na frente de si mesmo, agarra-se à sua situação temporal como desafio ao seu próprio poder de vir-a-ser o que se quer-ser, ou que poder-vir-a-ser o que se deseja. Heidegger entende que o ser humano sempre anda a procura de algo para além de si mesmo, e seu ser consiste em objetivar aquilo que ainda não é; projeta-se, assim, para fora de si mesmo, mas não pode sair das fronteiras do mundo em que está submerso: é uma projeção no mundo, do mundo e com o mundo, de modo tal que o seu eu e o mundo são inseparáveis, totalmente. Neste mundo, o homem é dasein, ser-lançado-aí, fermentação para a morte, ser-para-a-morte. Ele, todavia, não está sozinho; é um ser-com, um ser-em-comum com o Outro: na angústia, na capacidade de atribuir sentido ao seu ser, ao ser do Outro – coisa que se manifesta, essencialmente, no trabalho, na arte, na solicitude, fato que o conduz e re-conduz ao amor (ou ao “amar”) e à comunicação direta, relacional. É essa inquietação relacional que estrutura temporalmente o ser homem, ser mulher, lançando-os para trás e para adiante, projetando-os para a/uma vida que seja mais que a morte, que seja mais que a espera da morte. Deveras, “a verdade é que amamos a vida, não porque estamos acostumados à vida, mas porque estamos acostumados ao amor”. Amor é dialética, movimento, inquietude. Na verdade, e em se tratando de sentimentos, o que não seria isso?

2 comentários:

  1. Uau!
    Amo filosofia, e amo seus textos!
    abraço.
    (passei pra dar uma lidinha, depois comento com mais tempo)

    ResponderExcluir
  2. Obrigado a Nine, Clarissa, Marta, Márcio, Zilah e Tela pelos comentários. Os comentários estão aí, Martinha - é coisa do servidor que eles sumam de quando em vez, mas eles sempre voltam. Boa semana pra todos nós. \o

    ResponderExcluir

patativa moog, amor, filosofia, felicidade, paixão, desejo