terça-feira, 20 de outubro de 2009

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Das redes telúricas de um romance ideal. Há quem pense, na sua insanidade amorosa, que o amor é um só, e que dura para sempre. Fala-se até em “alma gêmea” – que nem fazia a Lorayne (cf. 1, 43). Esperando pelo amor de Julio, morreu coroa, cotovelos na janela, olhos fitos na estrada sinuosa... Julio nunca veio. Nesses casos, particularmente nos casos semelhantes ao de Lorayne, o ser amado habita no mundo fantasioso da apaixonada ou do apaixonado que não consegue ver mais nada nem mais ninguém além da onipresente figura fantasmagórica daquele que lhe tem prendido. Pois vocês não sabem? Não há melhor prisão do que esta: a da pseudo-eterna-unicidade do amor. “Não sei amar na vida mais ninguém”. Conversa! Isso só cabe na poesia. Do contrário, é doença, perturbação psicológica. Ainda hoje há pessoas que, a espera de um grande amor (de um “príncipe encantado” que chegue montado num cavalo branco), deixam o tempo correr sem que percebam os amores possíveis que sempre vê, e que existem por toda a parte – amor possível é aquele que, mesmo vazio de promessas de eternas felicidades, ou de perfeições estéticas, é bem recebido por ser, eo ipso, o que, na realidade, é, , pode ser. O amor possível, logo, é contrário ao amor platônico – aquele que é idealizado como perfeito, absoluto, mais real (não me peça para explicar como isso é possível) do que este que há antes do salto ontológico sempre dado a priori. Em outras palavras, e para que não nos percamos nos raciocínios, é assim: “não tem tu, vai tu mesmo”, como reza a sabedoria popular. O amor romântico não é o ideal que existe e não se conhece, é, antes, o que se conhece, real, embora não ideal. Uma coisa que prende toda uma vida, tolhendo as possibilidades reais da possível felicidade – como o amordaçamento da árvore inteira num minúsculo bonsai –, só pode ser enquadrada na categoria de doença da alma: os tolos sonhos de um amor perfeito. E assim chegamos, do modo mais cândido, ao grande paradoxo do amor romântico: sendo ele uma artimanha da Vontade em função da vida e sua preservação, é, aí, a sua castração mais cruel. Paga-se a pena da morte com a vida.

3 comentários:

  1. Caro amigo,

    Não que eu seja dono de um blog super prestigiado, mas me orgulho de estar entre os 1.000 mais visitados segundo o ranking do blogblogs.
    Sei da dificuldade que é trilhar o caminho para chegar nesse nível e gosto de incentivar todos o blogueiros para sentirem também o sabor dessa conquista.
    Espero siceramente que você, meu caro, tenha muitos e muitos seguidores e cada vez mais tenha prazer em blogar.

    saudações poéticas!

    Valter Montani

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  2. Voltei!! provas, trabalhos, estágio e outras atividades me afastaram do prazer de comentar os textos do GRANDE LIVRO DO AMOR. Pois é, me vi nesse texto! "amor possível é contrário ao que é platônico". Como na técnica bonsai, há uma manutenção e um cuidado nessa prisão do amor platônico. Quero dizer pra quem tem medo do "quem não tem tu vai tu mesmo" que vale a pena dar uma chance a vida. Vivi mil momentos de felicidade! e porque não dizer de amor! A união possível pode ser muito melhor do que a união do amor romântico ideal.

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  3. Teu comentário é ótimo, Marta. Nem tenho o que dizer sobre ele - é o que já foi dito, por você mesma. Senti tua falta por aqui, rsrsrs...

    Obrigado também ao Valter, por encorajar - mas os meus planos com esse blog são bem limitados, e já estão mais do que na medida. Faço-o para amigos, e para fazer novos.

    Obrigado a quem lê e gosta, ou não - mas lê mesmo assim.

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patativa moog, amor, filosofia, felicidade, paixão, desejo