segunda-feira, 12 de outubro de 2009

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Do desejo e da falta. George Bernard Shaw, famoso escritor, jornalista e dramaturgo irlandês, dizia que, na vida, existem duas grandes catástrofes: “a primeira é quando nossos desejos não são satisfeitos; a segunda é quando eles são”. Se você tem filhos já deve ter passado por esta experiência: fazendo compras no supermercado, seu filho vê um brinquedo que, imediatamente, deseja possuí-lo. Mas você realmente não está disposto a gastar mais do que já havia planejado na sua lista de compras. E comprar aquele brinquedo, mais um, caríssimo, vai exceder em seu orçamento – sem falar que não é bom alimentar a idéia que seu filho tem de que, tudo o que quiser, poderá ter. Ele, no entanto, aos berros, não está nem um pouco interessado em saber quais são os seus planos, sua psicologia de manuais; somente o desejo dele é que conta agora, e sua melhor arma, não dispondo de outra, é o choro, e o insistente: “Commmpra, paiiii...” Você consegue adiar aquele gasto todo prometendo ao menino que, se ele se comportar direitinho no trato com a sua irmã, comprará na semana que vem. E é espantoso ver como o menino se comporta, muda completamente. Você aprendeu lendo aquele monte de livros de “como criar seus filhos” que, se prometer alguma coisa ao menino, ou à menina, cumpra - pois que a sua moral depende disso. Promessa cumprida, o menino não consegue se conter de alegria ao ver o brinquedo tão desejado, finalmente, em suas mãos. Nos próximos dois ou três dias ele só terá olhos e tempo para o tal brinquedo. Mas, dias depois, esquece-o quase que por completo, trocando-o por um novo desejo. O amor, que habita na falta, sucumbe ante o desejo realizado; pois o desejo não habita na constância, mas confunda-se (funde-se com) com a paixão (fogo) que, por sua vez, confunde-se com o amor (idealismo). “O sumo bem”, porém, “só no ideal perdura...”; lembra-se? (cf. 2, 32). É por isso também que, ainda segundo Shaw: “Não há diferença entre um sábio e um tolo quando estão apaixonados”, e “O primeiro amor [não] é [mais do que] um pouco de loucura e muita curiosidade”. Desejar é sonhar; ter o objeto desejado é encontrar-se desperto. E tudo voa, depressa, pela primeira janela aberta que encontra. É que o amor só existe enquanto falta. Pois você não sabe? Nós não crescemos nunca, o que crescem mesmo são os brinquedos dos nossos desejos.

Um comentário:

  1. pois é cara... dar-se conta disso já é um grande passo... hehehe!!!
    Muita gente sofreria bem menos...

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patativa moog, amor, filosofia, felicidade, paixão, desejo