sábado, 17 de outubro de 2009

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Da soberania da Vontade. Um espectro paira por sobre o mundo, o espectro do amor romântico. Quase todas as artes, os meios de comunicação possíveis e imaginários, e as doutrinas várias, uniram-se numa santa cruzada com o fito de maquiá-lo, divinizá-lo: a pintura, a literatura, o cinema, a música e a moral do Ocidente cristão, principalmente. Qual o artista que, para vender a sua obra, não usou de tal artifício? E qual poeta, filósofo ou teólogo não acusou positivamente o Amor de ser uma coisa divina e engendradora da beleza, da arte e da vida? Desse fato decorrem várias conclusões. Uma primeira e essencial é: há o consenso de que o Amor seja um motor primordial à existência humana – e não só a dela -, coisa que é reconhecida por todos os que podem pensar, e vivida impulsivamente por todos os que, embora vivos, não pensam - mas as considerações mais profundas sobre tal consenso podem ser pensadas de outro prisma, e com aquela fidelidade à terra que Nietzsche falava. Outra: já é tempo de a razão retirar o véu de sobre o amor romântico, idealizado como reflexo de uma Perfeição extramundana - essa da primeira conclusão, por exemplo. A somatória de tal desvelamento é a constatação óbvia de que há uma idiotização em tudo o que se escreve sobre ele, como sublime, como elevado à décima potência do “bonitinho” e do “colorido”. Assim, e para desvelar o engodo de tais tendências que mantém a Idéia de uma realeza estranha ao bom e ao belo que se tem, in natura, expõe-se aqui o Manifesto da Vontade, escrito em três livros. Afinal, a história de todas as manifestações só é/foi reconhecida depois de escrita, porque, assim, historial. “A história de todas as sociedades que existiram até hoje”, dizem Marx e Engels, “é sempre a história das diversas lutas entre as classes... homens livres e escravos, patrícios e plebeus, barões feudais e servos da gleba; em poucas palavras, os opressores e os oprimidos sempre estiveram em oposição mútua, mantendo uma luta constante, às vezes disfarçada...” O egoísmo (ou o amour de soi), como se vê, é a mola engendradora da ação, mas há algo mais, por cima, mas não é uma mão divina. Esse é um dos disfarces da Vontade. De fato: o que não se disfarçou, nunca, foi o amour de soi que move cada um, em qualquer lado – no esforço do operário ou no repouso ocioso do burguês. Amour de soi; eis o espectro que move o mundo; mas esse, mesmo esse, é mera sombra da Vontade que impera sobre tudo e é, ela, sim, sem retoques, o que o romantismo e a moral chamaram de Amor, verdadeiro amor.

Um comentário:

  1. Para quem pensa, os muitos anos de vida abrem a cabeça para novos horizontes e as bobagens caem. Alguem me disse em uma classe de estudos
    que o amor não é um sentimento é atitude. Lendo o texto DA SOBERANIA DA VONTADE de 17 de outubro que já saiu da tela, entendi que essa atitude pode ser um amor egoista como o famoso amor ao próximo, cheio de atitudes e muitas vezes sem nenhuma compaixão. Romantismo + moral = amor verdadeiro. Matematicamente, essa é boa!!!

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patativa moog, amor, filosofia, felicidade, paixão, desejo