quinta-feira, 30 de julho de 2009

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Do “morrer de amor”. Quando Eco viu Narciso, moço lindo, enlouqueceu de paixão, e o amou. Pois vocês não sabem? A paixão sempre enlouquece; é o estado natural e mais espontâneo da Vontade, que o pensamento moral cristão do Ocidente, principalmente, sublimou, maquiando-a como um amor que relegava Eros a um plano inferior. Ágape era o amor maior, mais elevado e único pelo qual se deveria viver, se deveria morrer. Mas acontece que Eros está em tudo e, principalmente, no amor-de-si-mesmo (stergein). Sim: amor insanus est. Ágape, ideal, metafísico; Eros, real, biológico-químico. Assim, onde quer que Narciso fosse, Eco o seguia – mesmo que fosse para ganhar apenas um pálido raio do seu olhar –, arriscando-se. Narciso, porém, amava apenas a si mesmo, e à sua própria imagem refletida nas águas cristalinas de uma fonte. Não vendo o seu amor correspondido – pois que os amores nunca são correspondidos –, Eco retirou-se para uma caverna, triste, humilhada. Lá, começou a definhar, e tanto que, dela, restou apenas uma voz triste e distante, perdida pelos espaços ermos. E é por isso que Eco, hoje, é lembrada somente como repetição do mesmo, não sendo o próprio, porém. E bem assim no amor, na dor ou nos sons que saem dos pedais de efeito que alguns músicos contemporâneos utilizam.

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patativa moog, amor, filosofia, felicidade, paixão, desejo