quarta-feira, 22 de julho de 2009

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Da sorte e do destino. Zé Gomes é uma cidadezinha bucólica, distrito de Exú, no interior de Pernambuco; lá eu nasci. Como é comum em tantas cidades pequeninas, os rapazes sonham com a vida que vêem na TV, e as moças sonham com os rapazes que vivem nas cidades grandes. E é assim que, com as exceções comuns, quando esses rapazes retornam a Zé Gomes, vindos de São Paulo ou do Rio, as garotas vêem-nos quais “príncipes dos cavalos brancos”, e sonham que os tais, à proporção das suas belezas, ao voltarem para as cidades grandes, levem-nas consigo, como nas histórias da Carochinha. É uma maneira de fuga do fim do mundo; e o casamento ainda é, às meninas, o passe seguro pra algum futuro, e o escape certo do fracasso maternal conforme os bons costumes ensinados pela santa madre Igreja. Porque "não basta ter um filho", pensam, "é preciso que o filho tenha um pai; e se for um que valha a pena, ainda melhor". Marta era uma dessas meninas, e pensava bem assim. De namoro com Miguel, que viera visitar a família, combinou de, com ele, fugir para São Paulo – a despeito dos conselhos dos seus pobres e velhos pais. Fugiu. Mas, achando-se em São Paulo, enamorou-se de Aberto, que era dono de um pequenino restaurante self-service chamado: Tempero da Mamãe. No auge da decepção e da vergonha de haver sido corneado, Miguel procurou esquecer tudo nos braços da fogosa Aparecida, com quem teve dois filhos. Pouco depois ele seria promovido a gerente comercial na matriz da loja em que trabalhava há mais de dez anos, passando a receber duas vezes mais e tendo grande estabilidade. A sorte, enfim, pareceu-lhe sorrir. Marta, por esse mesmo tempo, viu-se obrigada a voltar para Zé Gomes, acompanhando o seu novo homem que, fugindo de ameaças de morte, por causa de algumas dívidas que contraíra no seu malfadado empreendimento, concluiu que Zé Gomes era o lugar perfeito para se esconder de todos os que lhe ameaçavam a vida; afinal, conforme os vários testemunhos de Marta, ali era “um lugar esquecido por Deus”, o “fim do mundo”, o “lugar onde o Judas perdeu as botas”, “onde o vento faz a curva”. “Em Zé Gomes”, pensava ele, “certamente não me encontrarão nunca; estarei a salvo”. E a vida segue.

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