terça-feira, 30 de junho de 2009

13
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Das incógnitas. Ela estava tão linda naquele dia; mais do que já era – coisa que, para ele, parecia impossível. Em sua casa, os dois jantavam enquanto a delicada Isobel Campbell cantava Let the good times begin. O mundo, apesar de tantas barbaridades, parecia aproximar-se, afinal, de alguma perfeição. Fazer amor com ela era como mergulhar num paraíso idílico, quente e doce... uma deliciosa sensação sem nome. Passado o tempo, era hora de levá-la em casa. No caminho, entre as centenas de veículos que normalmente trafegam o movimentado retão de Manaíra, ele pôde perceber que ela olhava para o cara que dirigia um Sedan prateado. Não que aquele olhar lhe incomodasse; isso, não. O que lhe incomodou mesmo foi vê-la disfarçar tão mal o despretensioso flerte. Sem querer magoá-la, ficou em silêncio. Mas algo dentro dele, como se fosse uma taça de cristal, partiu-se. “Ah, Capitu!”, ele pensou, “por onde andam as tuas crias?”. Ela não entendeu quando ele disse que depois ligava, e nunca mais ligou. É que ele, à semelhança do atormentado Bentinho, não tinha qualquer certeza da traição; tinha, porém, absoluta certeza da sua própria dúvida – e onde há a dúvida, disso todo mundo sabe, tudo dança suspenso no ar, diluindo-se ao leve sopro de qualquer vento erradio. O silêncio, às vezes, tem o peso das montanhas, das nuvens tempestuosas. E é assim que os amores às vezes se desfazem: ao sutil toque do acaso.

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patativa moog, amor, filosofia, felicidade, paixão, desejo