quarta-feira, 17 de junho de 2009

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Da união conjugal. Um dia, quando o Sol estava a pino, Zaratustra viu um homem carregando um asno com dois pesados fardos de feno. Os homens que o ouviam, num canto isolado da praça, viram os olhos do louco se enternecerem de compaixão ante a servidão passiva do inocente animal. “Ele vai falar”, pensaram. E ele falou: “Que vedes aqui, senhores?”, perguntou num gesto solene como somente ele sabia e ousava fazer. “Que vedes aqui?” E como os homens nada dissessem, pois que ele não esperava que dissessem nada mesmo, continuou: “Eu vos digo a que se afigura a cena: afigura-se a união entre um homem e uma mulher; a isso que todos dão o nome de casamento, realizado mediante contrato e troca de alianças, e em presença de testemunhas. Mas, tantas precauções, eu vos pergunto: por quê? Em tal união, um é, para o outro, naturalmente, cônjuge. Sim, e se não sabeis, tal palavra é revestida com o sentido de ‘fardo’, ‘fardo em comum’, ‘jugo com jugo’. Assim, no casamento, um e outro, mutuamente, comprometem-se em carregar um e mesmo fardo, na alegria e na tristeza. E ambos, inocentemente, acreditam fazer isso por amor. Pois, que outro motivo seria tão grande e tão sublime ao ponto de fazer com que alguém, além do seu próprio fardo, queira e comprometa-se perante testemunhas a carregar um outro? Todavia, eu vos pergunto: quem disse que, na vida, existe tal fardo? Quem disse que ele precisa existir? Compreendeis? A minha doutrina é a doutrina do novo homem: o homem-pássaro.” E as pessoas não entendiam porque Zaratustra usava tantas parábolas.

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