quinta-feira, 25 de junho de 2009

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Das fantasias. Os apaixonados, coitados, vivem num mundo à parte: o mundo da Lua. Talvez seja por isso que a Lua exerça tão grande fascínio sobre os apaixonados. Ela, feminina (passiva), é iluminada pelo Sol (ativo) que lhe adorna em reluzente e embriagante prateado: reflete-o; ele, sobre ela, tal amante apaixonado, derrama (sêmen) os seus raios fecundantes de mais luz. Não é uma bela metáfora para o amor, o amor romântico? Vontade, fecundidade. Hoje, nas grandes cidades, a fumaça e os prédios encobrem o céu quase que por completo, e aquele romantismo de que agora a pouco falei, proporcionado pela luz fugidia do luar, quase não aparece mais. Mas, noutros tempos, isso não era assim. Minha mãe, a propósito, dizia que meu pai, dentre as muitas promessas que fazia para seduzi-la, prometia-lhe, caso ela quisesse namorar com ele, dar-lhe a Lua e, de bônus, as estrelas. Minha doce e ingênua mãe, nada entendendo de astronomia, aceitou a descabida proposta. Mas a única coisa que meu pai lhe deu foram dois filhos, sendo eu mesmo um dos tais, o último. Depois lhe deu o desprezo e, de saldo, a solidão de muitas e muitas noites frias e escuras. Paixão = sofrimento: “A paixão quer sangue e corações arruinados”, diz o Renato Russo na letra de “Longe do meu lado”, música em ré menor no álbum “A Tempestade ou O Livro dos Dias”, de 1996, da Legião Urbana. Mas, ai de quem tenta dar conselhos aos apaixonados; é que eles, em relação à frieza da razão, nada podem entender, têm a mente obnubilada pelo calor entorpecente da potente droga do amor novinho – toda paixão é um amor novinho, se ela vicia ou não, isso é outro departamento – e, por isso, eles só entendem o que querem entender, só ouvem o que desejam ouvir. Paixão é igual gripe suína: se não mata, passa.

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patativa moog, amor, filosofia, felicidade, paixão, desejo