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Das palavras etéreas. Na novela, à mexicana, Cláudio Fernando beija Serena e diz, com olhar de peixe morto: “Oh, Serena, como eu te amo! Você nem faz idéia de como te quero bem! Se eu pudesse, nunca me afastaria de você; e ficava para sempre colado ao seu corpo... assim...” Agora, numa tomada mais aberta, Cláudio Fernando beija Serena novamente, apertando-a contra si, em ardente fogo, fúria e sofreguidão. Serena, todavia, depois do beijo, ganha um ar de severidade, de desconforto, e se livra o mais depressa que pode dos braços fortes e peludíssimos de Cláudio Fernando. “O que você tem, meu amor? O que há de errado?” Cláudio Fernando pergunta, visivelmente confuso. Serena, pegando o vaso sobre o móvel, arremessa-o contra Cláudio Fernando, gritando, furiosa, com os olhos rasos d’água: “Você diz isso a todas, seu infeliz mentiroso! Seu monstro! Como você pode, Cláudio Fernando, como você pode ser assim tão... tão imprestável?! Como pode ser assim tão, tão... oh?!...” E, de supetão, sai da sala aos prantos, batendo a porta atrás de si. Cláudio Fernando, num flashback em branco e preto, lembra-se da cena anterior, quando do seu encontro com Clarissa... ele havia repetido as mesmas palavras, como que decoradas... palavra por palavra. Serena, certamente, estaria por trás de uma daquelas portas, daquelas cortinas. “Ah, porca miséria! mais que droga, Cláudio Fernando!”, recrimina-se, vencido: “Por que você não teve mais cuidado?”, pergunta-se. A câmara se afasta e, sobre o cenário, a luz vai sumindo. Agora, sozinho, na penumbra, com as duas mãos sobre a cabeça, Cláudio Fernando desaba sobre a poltrona. Escuridão. O amor, meus caros, é uma novela mexicana.
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