terça-feira, 25 de maio de 2010

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Da pressa do Amor, do Desejo e da Vontade, e de como isso tudo faz parte de um mesmo e trágico enredo. Impaciente, impacientíssimo é o amor romântico, que quer tudo ao mesmo tempo, e já. O Chico equivoca-se quando, na letra de “Futuros amantes”, diz: “Não se afobe não, que nada é pra ; o amor não tem pressa, ele pode esperar”. Equívoco perdoável, e até compreensível: porque a poesia não tem contrato com a verdade, e nem precisa. E, sim: é mesmo do amor romântico que ele fala, aí. Do contrário, poderia estar falando de um amor extramundano, divino mesmo - como aquele de quem o apóstolo diz: “O amor é paciente”. Mas, como não é difícil de perceber, o autor de “Futuros amantes” fala mesmo é do amor mundano (Eros), o outro, da primeira epístola Aos coríntios, do amor divino (ágape), que pode ser encontrado na própria Divindade: de quem nada sabemos, de quem nada podemos saber. Quem ama, mundanamente – e quem ama só ama mundanamente -, não sabe esconder que ama, e não sabe esperar. O Amor tem o estigma do tempo: sabe-se frágil, coisa que morre fácil, fácil, fácil... Daí a pressa de abrir-se em todo o seu esplendor, em toda a sua plenitude. À semelhança do girassol em um dia depois da chuva, o Amor conhece o poder destruidor do tempo. Mas o tempo, apesar de tudo, não consegue destruir o Amor para sempre. É que o Amor, que também não é para sempre em seu objeto particular, vive no mundo dos desejos; e, eo ipso, enquanto houver gente no mundo, aí ele estará, e a Vontade. Amor Desejo Vontade. Vontade, como Desejo, é sempre “vontade de/por algo”, “desejo de algo”. Como o Amor, o Desejo também está grudado em muitas opções que podem ser, às vezes, contraditórias sob muitos aspectos. Alguém, por exemplo, pode desejar morrer, quando, na verdade, deseja mesmo é viver. Deseja-se tanto a vida que, num paradoxo flagrante da Vontade, “deseja-se” a morte. Ninguém, em absoluto, “deseja” mesmo a morte – só a de outrem; o que, por sinal, é muito fácil e comum. É como dizia Pascal: “Todos os homens procuram ser felizes; isso não tem exceção... É esse o motivo de todas as ações de todos os homens, inclusive dos que vão se enforcar”. O suicida não é movido por outra coisa senão por amor-a-si; no fim, afinal, ao invés da morte, ele procura mesmo é por uma felicidade in fine, sua felicidade: vida. O mesmo vale para o Desejo. Lembra-se de Romeu e Julieta? Romeu, matando-se, mata-a também. (Ah, se ele tivesse esperado!...). Que é viver, agora, para ela, senão morrer a cada segundo? Para viver novamente, ela pensa, é preciso também morrer. Ao menos aí, na morte, estará com o seu amado, para sempre. Morrer no amor (amando, in love), assim pensa Julieta, é viver contrário à morte: morre-se pela vida, a vida que não veio, que não houve, que seria se... Ela poderia ter esperado um pouco mais, até que ele acordasse... Mas, oh, lástima!... o amor não sabe esperar, e nem os que amam.

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patativa moog, amor, filosofia, felicidade, paixão, desejo